domingo, 20 de setembro de 2020

Rubens Luiz Sartori (Poemas Avulsos)


NA BEIRA DO LAGO

Na beira do lago
não há "faz de conta".
Só coisas de fato.
Rodeiam os patos,
espreitam os sapos,
incautos insetos
fatores de vida,
da beira do lago.

Nos lagos tranquilos
de mato fechado,
carreiros de pacas,
de antas, capinchos,
galhadas, catetos,
e a noite barulha
nas águas do lago.

E o lago sozinho
nas vagas do tempo
seu mundo refaz.
Encrespa co' vento,
redobra suas ondas,
se torna tenaz.
E os dias escoam,
esvaem nas enchentes,
espraiam banhados
de beira de lago.

A lua debruça
seu manto de paz,
espelho luar
no ventre do lago.
E a vida contínua
na beira do lago,
é como ninar
de mãe benzedeira,
que conta a seus filhos,
centenas de histórias,
infindas de afago,
de todas as horas
na beira do lago.
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O TIJOLO E A VIDA

I
Ah! o tijolo do oleiro,
que amassa o barro bruto,
é um trabalhador resoluto,
retira da terra altaneiro
o seu sangue absoluto.
Faz na arte primitiva,
uma espécie alternativa
que constrói área e sala,
edifica até a senzala,
da negritude cativa.

II
Os tijolos da minha terra,
que se assentam em seus muros,
são tijolos de seis furos,
de oito, e muitos maciços;
são fortes, não são quebradiços.
São tijolos que guardam nobres,
nas tumbas dos cemitérios;
que também guardam gaudérios,
que viveram assim sem rumo,
mas que se igualam no prumo,
que só a tumba campestre,
nivela a todos os homens
na eternidade celeste.

Ill
São da terra que os adorna,
sem obedecer qualquer norma,
mas só a voz da natureza,
que nos tijolos da igreja,
celebram seu Criador.
Mas de que adianta a oração,
pro rude e louco pagão,
que só fez estripulia,
pois da sua vida um dia
só sobrou maledicência,
que pra muita consciência
é coisa feia e pecado.

IV
Porém, na vida, o passado,
só vale na hora da morte,
pros que têm muito mais sorte,
de ter uma cova bem rasa,
que agora será sua casa,
sem tijolo, porta ou cozinha,
mas na terra, mãe-madrinha,
que a todos recebe em consolo,
ajuntando cada tijolo
pras novas casas-mansões,
sucedendo as gerações
que virão sempre na terra,
qual tijolos cimentados,
na argamassa escondida
nas paredes da existência,
adornando a querência,
nas planuras e no vento,
fazem o arrimo da história,
que canta toda sua glória,
na herança eterna do tempo.

Fonte:
Rubens Luiz Sartori (org.). Compêndio da Academia Mourãoense de Letras.  Campo Mourão/PR: UNESPAR/FECILCAM, 2004.
Livro enviado por Sinclair Pozza Casemiro

Um comentário:

Maristela Sartori disse...

Que bom reler esses poemas. Emocionante! Toca a alma!