terça-feira, 8 de setembro de 2020

Apollo Taborda França (Grandes Temas da Literatura) O Sapo – 2, final



Ildefonso Borba Cordeiro
Piraquara-PR, 1900 – 1938, Curitiba-PR

A CANTIGA DOS SAPOS

A cantiga dos sapos, a cantiga
Desses cantores tristes da lagoa,
Encerra qualquer coisa que me intriga
E uma coisa qualquer que me magoa.

Ao ouvi-los, cantando sem fadiga,
Não os posso entender e cismo à toa;
Cantar é bendizer a sorte amiga;
Mas, a sorte dos sapos não é boa.

Vivem escorraçados sem piedade
E, no entretanto, quando a chuva irriga
A terra, ao estrugir da tempestade,

Eles põem-se a cantar alegremente:
A alegria, porém, dessa cantiga
É uma alegria que entristece a gente.
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Diva Ferreira Gomes
(Ouro Preto-MG, 1914) Curitiba/PR

A UM SAPO

Inofensivo sapo, porque tremo
ao esbarrar contigo no porão?
Olhos saltados, tu és bem o Demo
que repudio, sem contemplação.

— Guardas a lenha? — É isto que temo.
Sabes ser feio como guardião!
Ao avistar-te, se não grito, gemo...
— Muda de casa. vai pra outro porão.

Quem sabe se também tu não te assustas,
toda vez que invadindo teu domínio,
de ti me acerco, sem me aperceber?!

Pensando bem, vives às tuas custas.
Acostumar-me a ti é o raciocínio.
Mas, fecha os olhos para eu não correr.
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José da Cruz Filho
Canindé/CE, 1884 – 1974, Fortaleza/CE

A ILUSÃO DO SAPO

Aos pinchos, pela noite, hesitante e moroso,
O batráquio surgiu do grande charco à borda,
E quedou-se, a cismar, como quem se recorda
De algo que se esvaiu num passado brumoso...

Ao fundo, onde do céu, que de nuvens se borda,
Reflexa a imagem vê, pelo céu bonançoso,
Vê da lua pairar o esferóide radioso,
E o repulsivo ser de júbilo transborda...

Quedou-se, acaso, ali, todo perplexo. Ao centro,
A tentá-lo, a ilusão do orbe lunar flutua,
E ei-lo, que apresta o pulo e se arroja lá dentro.

E a água ondulou, entre chispas cambiantes,
Num naufrágio de luz, em que parece a lua
Dissolvida em cristais, topázios e diamantes...
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Raimundo de Moura Rêgo
Matões/MA, 1911 – 1988, Rio de Janeiro/RJ

O SAPO

Mole, imundo, asqueroso, a bater sempre o papo,
Gomo da própria vida as horas a marcar,
é mesmo um tipo feio e repelente o sapo,
não havendo, talvez, a que se comparar,

Surja um brilho no Azul, um pequeno fiapo
de luz, e ei-lo a espumar de alegre, ei-lo a cantar
de gozo. E a vida passa assim, por entre um trapo
de sonho e a água de um charco inútil e vulgar...

Entretanto, a viver como o homem, sobre a terra
espalhando o terror e a destruição da guerra,
entre a ambição e o insulto, impenitente e incréu,

talvez seja melhor ser sapo. É preferível
viver, nessa ilusão de querer o impossível,
namorando o esplendor das estrelas do céu…

Fonte:
Apollo Taborda França. 10 grandes temas (clássicos) da literatura. Curitiba/PR: Gráfica Vitória, 1989.
Livro enviado por Vânia Ennes,

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