Ainda sonolenta, Maria Júlia sentou-se na calçada para observá-los e de vez em quando só olhar não a satisfazia, corria numa tentativa de pegá-los, mas quando se aproximava, eles voavam. Essa incompatibilidade a fez tirar o sapato e depois de um prolongado tempo, foi que percebeu que havia tirado só um pé.
Pelas folhas da grama escorriam as últimas gotas de orvalho, com a semelhança de um colar de pérolas debulhando entre as folhas e caindo para ser bebida pela terra.
Uma borboleta grande de cor azul voava ao seu redor num zig-zag, aguçando mais desejo de aprisionar os bichinhos!
Maria Júlia completaria 6 anos de idade na próxima semana, tinha pele clara, olhos castanhos esverdeados e cabelos loiros cacheados. Parecia uma bonequinha das mais lindas existentes.
O sol das dez horas já aquecia o seu rosto, deixando as bochechas vermelhas destacando ainda mais sua beleza.
Cansada, voltou à posição inicial, pôs os cotovelos no colo e a cabeça entre as mãos. Pensou, gostaria que meu presente de aniversário fosse uma noite de sonho, e pudesse transformar-me numa borboleta amarela por um dia de muito sol. Reforçando o pedido, escrevia bilhetes ao papai do céu, punha-os na janela, no gramado, na sala de jantar, na biblioteca, "Papai do céu! Quero ser uma linda borboleta amarela por um dia".
Foram passando os dias e para familiarizar-se mais com as borboletas, ela ia para o jardim todas as manhãs.
- Maria Júlia! Gritou sua mãe.
- Estou aqui no jardim treinando.
- Deixa de brincadeira e vem experimentar o seu vestido.
- Não, mamãe, já escolhi o meu.
Dona Neide fazia todas as tarefas domésticas e nas horas vagas costurava as roupas das crianças.
A noite soprava um vento fresco, Maria Júlia deitou mais cedo cobriu-se até o pescoço, sentiu a suavidade dos lençóis como a leveza da veste de um anjo. O quarto foi invadido por um clarão, uma voz dócil chamou:
- Maria Júlia! Acorda! Tenho um trabalho pra você.
- O quê? Respondeu já em frente ao espelho, admirando a bela borboleta em que tinha se transformado.
- Ouça com muita atenção: "Procure no jardim quatro sementes que estão bem juntinhas, coloque-as numa caixinha. Você não pode perdê-las, tenha muito cuidado! Vá aos quatro cantos do mundo; peça a seus habitantes que as plantem com muito carinho e dedicação. Quando essas plantinhas começarem a soltar o pólen, eles deverão soprá-los para o alto e
fazer três pedidos".
- Quais são os pedidos? – perguntou Maria Júlia.
- Isso vai depender da necessidade de cada região,
- Sim! Farei o que mandar.
Aborrecida, ela pensou, puxa! e meu dia de sol? Queria voar, voar rente ao chão, subir até as copas das árvores,.. É melhor não perder tempo. Pôs a bolsinha tiracolo no pescoço, já com as sementes, e voou, voou alta.
Imaginou os quatro pontos, e foi onde encontrou terra e gente, maravilha! Mas nos polos, fora uma viagem sofrida. Era o último lugar o Polo Norte, quando chegou, já sem forças e cansada, caiu numa geleira ficando presa uma de suas asas. Chorava e debatia tentando sair do gelo e assim permaneceu quase uma hora naquela situação lamentável. Até que decidiu pedir socorro e gritou:
- Onde está o povo deste lugar? Eu vou morrer congelada!
Com a gritaria apareceu um pinguim e seguidamente outros e alguns leões marinhos para ver o que acontecia.
- Calma, calma linda borboleta! Não vê que está se cansando cada vez mais?
- Me tire desse gelo, eu não tenho tempo a perder, por favor!
O pinguim delicadamente puxou com o bico a asinha dela para cima, tirou as pedras de gelo. Numa posição mais confortável ela respirou aliviada e agradeceu.
- Ah, que bom! Que mundo gelado esse de vocês!
- Sem dúvidas, mas eu no seu mundo quente, morreria!
- Onde estão os habitantes deste lugar?
– Somos nós.
- Tenho que achar alguém para plantar esta sementinha.
– Mas no gelo?
- Não sei, arrume uma terra, e faça esse trabalho.
E pronta para partir, depois de ter olhado tudo às pressas e muito curiosa, esquecia o motivo mais importante da sua ida ali. Despedia acenando com suas encantadoras asas.
- Linda borboleta! Disseram em coro.
– Sim!
– Você não falou os nossos pedidos.
- São as necessidades da região.
- Que nosso lugar seja habitado como o seu!
Será o primeiro pedido, disse o pinguim que lhe prestou socorro; o leão-marinho ia pedir para o homem preservar a vida deles. Um filhote pinguim pediu para que ela voltasse outras vezes para colorir o seu mundo.
Naquela manhã, Maria Júlia acordou mais tarde, a sua mãe preocupada entra no quarto e deseja-lhe feliz aniversário, percebe que dormia tranquila! Beija-a na face dizendo: – Levanta dorminhoca!
- Já acordei. Disse indo em direção à janela que a mãe acabara de abrir.
Fontes:
Rubens Luiz Sartori (org.). Compêndio da Academia Mourãoense de Letras. Campo Mourão/PR: UNESPAR/FECILCAM, 2004.
Livro enviado por Sinclair Pozza Casemiro.
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