sábado, 26 de setembro de 2020

Rubens Luiz Sartori (Poemas Avulsos) 3


ESTRADAS ANTIGAS

Serpenteando os morros e as canhadas,
imperavam majestosas,
as antigas estradas, velhas picadas,
aplainadas nos cascos dos animais,
nas diuturnas carreteadas.
Poeirentas. Tranquilas. Lamacentas.
Veredas do desbravamento alinhavadas.

Estreitas as estradas dos campos e das serras,
com valetas e cancelas; mateadas e lorotas.
Foi um momento. Sumiram as gaiatas,
as carroças e as pousadas ao relento.

Nas novas pistas modernizadas.
não há mais marcela nem carqueja no barranco,
só as fugas da terra lavada.
Fenderam as pedras. Rasgaram os montes.
Endireitaram as encruzilhadas,
esconderam as sangas e secaram as fontes.
Tudo ficou novo, mas nem tanto...

Hoje esquecidas, desviadas, encurtadas.
Os aterros e pontilhões das modernas estradas asfaltadas,
são como mármore entalhado de túmulos estilizados,
a sepultar no seu ventre os peraus do passado.

E nas sendas do tempo,
as estradas antigas
são marcas esquecidas, agredidas,
da aurora do progresso que,
possesso,
destrói a própria vida...
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MÃE! SE AMA E NÃO SE DEFINE

Figura humana e divina,
que gera amor e fascina,
dispõe sem tempo do tempo,
não tem sequer um momento.

Descanso é coisa dos outros,
pode tudo, ama e faz,
pros filhos tudo lhe apraz,
não tem olhos nem pra choro,
quando seu filho, um tesouro,
lhe busca o seio de vida,
que só nela tem guarida,
para entender o seu tempo;
que pro marido é só vento,
que passa e vai para o mundo.

E ela como um segundo,
age, pratica e se dá.

Tudo pra ela é sem dor,
na graça, no peito de amor,
que se esparrama em aceite,
oferece ao seu filho seu leite,
que é vida, coisa sublime,
por isso mãe não se explica,
se ama e não se define.
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ROSEIRA - VIDA EM ESPINHOS

I - Que coisa mais dadivosa,
um ramo de rosa florido.
É arbusto agreste e temido,
pelos espinhos que tem,
no caule seco e esguio,
porém, fulgura no estio
a flor tão bela e charmosa.

II - No eito de uma existência,
não há quem não tenha furado,
um dedo, um braço enroscado
num galho duma roseira.
Má sorte, diz a parteira.
a quem nasce em dia nublado,
pra começar sua vivência.


Il l- Quanta vez em sua casa
um vivente viu-se atado.
no meio do emaranhado,
dos galhos de uma roseira;
de pegajosas maneiras,
fustigam qualquer pedaço
e, ao sair-se dos laçaços,
se fica co'corpo em brasa.

IV - Vale tudo na emoção:
ser espinhado ou riscado
pelo galho da roseira,
ao passar à trepadeira
na visita à casa amada,
onde fica aquerenciada
nossa "flor" do coração.

V - Assim, como registro somente.
a história de uma roseira,
que ficou a vida inteira
esperando sua colheita;
mas todos fizeram desfeita,
nenhuma flor extraída,
e ela desiludida,
murchou e secou para sempre.

Fonte:
Rubens Luiz Sartori (org.). Compêndio da Academia Mourãoense de Letras.  Campo Mourão/PR: UNESPAR/FECILCAM, 2004.
Livro enviado por Sinclair Pozza Casemiro

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