Hoje, olhando para dentro de mim, numa introspecção silenciosa e repentina, escavada e profunda, percebi o meu ‘eu’ interior sangrando alquebrado. Desventurosamente triste e feiamente sórdido e sobretudo, enfraquecido, me senti ao rés do chão. Diante deste quadro desolador, parei, pensei, analisei e, por fim, não me restou outra alternativa, senão chorar... Me debulhei, então, em gotas amargas de uma plangência sentida. Muitos queixumes botei para fora de uma só vez. Não porque meu todo estava partido, estilhaçado, mas por me sentir uma tola, uma idiota, uma Maria Ninguém. Cada vez que me lembro de como me entreguei a um sentimento sincero e puro, generoso e sem as contradições da malícia, mais e mais me sinto totalmente culpada de ter sido, além de desinteligente e ingênua, tão necessariamente ignorante e fraca, e para variar, com um enorme desejo... De arranjar frustrações mais complexas para aperrear a minha existência...
Meu Deus, como fui tola em pensar que havia reciprocidade de sua parte. Não havia nada, agora sei. Como uma pessoa como eu poderia querer alguém como você, ou disputar, com um cara de concepção mais jovem -, se em verdade não tenho mais ao alcance das mãos essa mocidade elegante que finjo possuir? Como, meu Pai, me questiono, perplexa -, como, se meu corpo já não é mais o mesmo -, tampouco a minha beleza externa não brilha com a intensidade de alguns anos atrás? Apenas a formosura meio desgastada do meu céu interior restou intacta, o que, para muitos, tal item não tem nenhum valor legal. Se as rugas e as dobras insistem, em cada dia, me mostrarem de forma contundente que o tempo não para nunca, que ele segue sempre... Sempre... Qual a porta da realidade careço abrir?
No mesmo interregno, quantas mentiras ditas, quantas decepções se formaram... E eu que só queria amar e ser amada. Ser correspondida, reconhecida, identificada, proclamada, acolhida. Você apenas me usou, e não só isto, se sentiu no direito de brincar comigo. Penso, com meus botões, como deve ter dado boas e sonoras gargalhadas desse meu amor que nutro, como uma doença incurável por você! Ah... Como dói, no fundo do mais profundo do ‘dentro de mim’, como dói sentir na carne, na pele, a dor do amor que foi pisoteado, esmagado e triturado sem piedade. Hoje, sei, para você, fui apenas mais um troféu, uma relíquia que você ganhou e da qual se cansou e jogou em um canto qualquer.
Dói e como dói, todavia, essa dor vai passar. Tem que passar. E vai passar. Sei que vai demorar um pouco, talvez anos, porém, nada melhor que o tempo inexorável para curar um mal de amor. Que a minha desgraça seja a sua felicidade. Que você nunca venha a sofrer dessa fraqueza que me causou. Sempre fui sincera e fiel, e nem todo o mal que me fez, acredite, apesar dos pesares, mudará meu jeito de ser. Serei sempre a mesma, como muitas foram por ai, que ainda acreditam no amor, na sinceridade, na confiança e na verdade, sobretudo, na verdade.
Porque eu sei que, em algum lugar, tem alguém escondido, oculto em algum cantinho que quem sabe, hoje, amanhã, ou depois, quererá juntar todos os pedaços do meu coração ferido. E esse alguém fará minha vida sorrir novamente. A beleza de uma pessoa, o corpo, e as rugas, os contratempos do cotidiano, são coisas naturais da vida. Um dia tudo passa, tudo acaba, tudo finda, mas o coração, o coração... Esse, meu caro, esse nunca envelhece.
Fonte:
Texto enviado por Aparecido Raimundo de Souza
2 comentários:
Amei muito bom, parabéns!!!!
Obrigado!! ☺️
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