quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Cecy Barbosa Campos (Cristais Poéticos) II


ENLEVO

A ternura silente
de tuas mãos
afaga a minha face.
É uma carícia tão real
que penso que estás presente.
A lágrima,
prestes a forrar,
encolhe-se e volta aos meus olhos
brilhantes de alegria.
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EXORTAÇÃO

Não caminhe tão suavemente.
Pise firme - marque sua passagem.
Não se vá, alienadamente.
Sua participação é central e necessária.
Não se transforme num rosto sem face,
numa imagem perdida que no tempo se esvai.
Não se perca num emaranhado de boas intenções
grite, lute, eleve sua voz, faça-se ouvir.
Não se comprometa com o silêncio,
aceitando as migalhas que sobraram.
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FELICIDADE

Felicidade é aproveitar cada momento
e cada raio de sol ou brilho prateado
que ilumina nosso dia ou nossa noite.
É sentir os pingos da chuva refrescante
que vai preparar o solo com cuidado
tornando-o macio e confortável
para o pequeno broto que, em breve,
vai despontar alegre,
saudando a natureza.
É respirar bem fundo, intensamente,
para sentir o cheiro do mato vigoroso
que nos traz a vida com energia.
É olhar o mar em ímpeto fremente
abraçando o rochedo enamorado.
É ir além do horizonte inatingível
mergulhando no azul, em transcendência
para o mundo invisível à nossa espera.
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FINGIMENTO

O seu amor não existe,
mas se existe, não se explica.
Existir pra tanta gente
é mentira, é falsidade.
Eu peço: não diga nada,
deixe eu fingir que acredito
que sou parte de sua vida,
que sou sua outra metade
sem que outras nos dividam
tirando a suposta unidade.
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FLORES

Sempre gostei de flores
mas nunca me preocupei muito com elas,
embora as contemplasse, várias vezes,
quando a gentileza de um amigo
celebrava a importância de um momento,
ofertando-as.
Agora que estou sozinha
as flores se tornaram
uma alegre companhia,
trazendo ao meu coração
um doce enlevo.
São elas que me ajudam em minha caminhada
dando-me a impressão
de estar acompanhada,
de que alguém da família
vai entrar a qualquer hora
e compartilhar da beleza colorida
que enfeita a sala.
As flores, comigo aguardam
o elogio, entusiasmado,
de quem chegando ao lar, feliz se sente
com a atmosfera perfumada e esfuziante.
Elas preenchem o vazio de uma ausência,
perdoando em silêncio
a antiga indiferença.
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FORTALEZA

Folhas de palmeiras dançando alegremente,
ao ritmo da brisa vespertina
enquanto mar e céu se misturam
em um mundo de azuis.
Pequenos barcos, com velas muito brancas
sobem e descem embalados pelas ondas.
Neste cenário, a cidade é um poema
que mostra como é certa a sua rima,
pois Fortaleza
é Beleza.

Fonte:
Cecy Barbosa Campos. Cenas. Juiz de Fora/MG: Editar Editora Associada, 2010.
Livro enviado pela poetisa.

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