segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Estante de Livros (O Largo da Palma, de Adônias Filho) – 6, final –


SEXTO EPISÓDIO: A PEDRA

Esta narrativa faz referência ao período da peste bubônica na Bahia. Nesse período era proibido terreno baldio. As casas e os sobradinhos foram se erguendo ao redor da igreja, tão antiga. “O sino da igreja, aqui na Palma, anuncia finados dia e noite. Maior que a peste, de verdade, só o medo”.

Se o terreno estava barato, a construção era cara porque naqueles dias o rei acabou com a escravidão.

Um negociante português construiu uma casa no terreno baldio próximo à igreja: uma casa comum, pequena, baixa. Quem a comprou foi Cícero Amaro, um garimpeiro de Jacobina. A narrativa descreve o temperamento folgado de Cícero, a vida dura de sua mulher Zefa, até o dia em que ele achou um brilhante do tamanho do caroço de uma azeitona. Vendeu e veio com a Zefa para a capital. Aqui comprou a casa do português, comprou uma quitanda para a Zefa e foi para a ladeira de Montanha, todo caprichado em busca de uma aventura. Lá encontra Flor que tira dele tudo que pode e lhe dá o fora. Quando está empobrecido, volta para Zefa que não o quer mais. Acha que é uma grande ingratidão, mas pensa em arrumar algum dinheiro para voltar a Jacobina e retornar à sua vida de garimpeiro.

COMENTÁRIO

Esta narrativa traz um período triste para a história da Bahia, quando a peste bubônica toma o espaço, dizima a população. Ao lado da peste está um belíssimo brilhante. O Largo da Palma, a velha igreja participam do sofrimento. O sino que toca dolorosamente anunciando as mortes, as perdas, o medo.

Depois de passada a peste é que Cícero Amaro chega à cidade. Para poder habitar o Largo da Palma, ele precisou encontrar um brilhante. Essa pedra traz uma simbologia especial: o brilhante precisa passar por uma transmutação, precisa ser lapidado, trabalhado. Em relação ao homem, a pedra simboliza a aprendizagem. Foi isso que Cícero veio aprender: como a vida oferece benefícios, mas exige que se mudem comportamentos.

Ao voltar ao ponto de partida, a lição que sobra para a personagem é recomeçar, mais velho, mais experiente, esperando ter a sorte lhe sorrindo novamente.

Lista de personagens

Cícero Amaro: garimpeiro de Jacobina, é preguiçoso e gosta de frequentar bordéis e beber pinga às vezes.

Zefa: negra esposa de Cícero, é muito trabalhadora e sonha em montar uma quitanda.

Flor: prostituta muito bela que tem um caso amoroso baseado em interesses com Cícero.

Fonte:
– ARAÚJO, Vera L. R. in Cultura, Contextos e Contemporaneidade, p.21. Disponível no Portal São Francisco.

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