Antônio Roberto Fernandes
São Fidélis/RJ, 1945 – 2008, Campos dos Goytacazes/RJ
COVA
Cova é palavra que, naturalmente,
lembra morte, mistério e nos espanta
pois cova tanto é o lar de uma serpente
como, na Iria, foi o altar da santa.
Na cova o lavrador deita a semente
pra que ela morra e gere nova planta.
Sempre uma cova espera pela gente
e quem se deita lá não se levanta.
Mas na lavoura da felicidade
somos a terra, o fruto e a semente
– mistério da humaníssima trindade –
pois se louco de amor seu corpo enlaço
penetro em sua cova e, de repente,
deliro… e morro… e me sepulto… e nasço!
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Diniz Vitorino
Monteiro/PB, 1940 – 2010, João Pessoa/PB
DESEJO
No meu último instante, quero acesas
as estrelas banhadas de neblinas,
e, ao sussurro de orquestra montanhesas,
dançar valsas com rosas bailarinas.
Satisfeito soltar as lágrimas presas,
da alcova luminosa das retinas.
derramar todas elas, sem tristezas,
no gramados das chãs esmeraldinas.
Beber gotas do pólen fecundado,
sobre o colo do galho esverdeado,
onde a flor engravida sem sentir!
Deleitar-me na paz que envolve a fonte
morrer bêbado fitando o horizonte,
vendo a lua deitar-se pra dormir!…
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Haroldo Lyra
Fortaleza/CE
DESPEJADAS
Trocou su’alma santa e o mais sutil
traço de vida calma e intemerata,
pelo vesgo contágio da ribalta
que lhe acena com brilho mercantil.
Na luxúria, no beijo que arrebata
das entranhas da carne o gozo vil,
paga o preço que a fama discutiu
nas premissas que o vero não retrata.
E colhe entre os abraços repentinos,
os laivos dos amores clandestinos,
em cavilosas juras gotejadas,
que tão cedo lhe explodem em desenganos,
martírio desses tratos levianos:
o alto custo das ninfas despejadas.
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J. G. de Araujo Jorge
Tarauacá/AC, 1914 – 1987, Rio de Janeiro/RJ
BOM DIA, AMIGO SOL!
Bom dia, amigo Sol! A casa é tua!
As bandas da janela abre e escancara,
– deixa que entre a manhã sonora e clara
que anda lá fora alegre pela rua!
Entre! Vem surpreendê-la quase nua,
doura-lhe as formas de beleza rara…
Na intimidade em que a deixei, repara
Que a sua carne é branca como a Lua!
Bom dia, amigo Sol! É esse o meu ninho…
Que não repares no seu desalinho
nem no ar cheio de sombras, de cansaços…
Entra! Só tu possuis esse direito,
– de surpreendê-la, quente dos meus braços,
no aconchego feliz do nosso leito!…
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São Fidélis/RJ, 1945 – 2008, Campos dos Goytacazes/RJ
COVA
Cova é palavra que, naturalmente,
lembra morte, mistério e nos espanta
pois cova tanto é o lar de uma serpente
como, na Iria, foi o altar da santa.
Na cova o lavrador deita a semente
pra que ela morra e gere nova planta.
Sempre uma cova espera pela gente
e quem se deita lá não se levanta.
Mas na lavoura da felicidade
somos a terra, o fruto e a semente
– mistério da humaníssima trindade –
pois se louco de amor seu corpo enlaço
penetro em sua cova e, de repente,
deliro… e morro… e me sepulto… e nasço!
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Diniz Vitorino
Monteiro/PB, 1940 – 2010, João Pessoa/PB
DESEJO
No meu último instante, quero acesas
as estrelas banhadas de neblinas,
e, ao sussurro de orquestra montanhesas,
dançar valsas com rosas bailarinas.
Satisfeito soltar as lágrimas presas,
da alcova luminosa das retinas.
derramar todas elas, sem tristezas,
no gramados das chãs esmeraldinas.
Beber gotas do pólen fecundado,
sobre o colo do galho esverdeado,
onde a flor engravida sem sentir!
Deleitar-me na paz que envolve a fonte
morrer bêbado fitando o horizonte,
vendo a lua deitar-se pra dormir!…
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Haroldo Lyra
Fortaleza/CE
DESPEJADAS
Trocou su’alma santa e o mais sutil
traço de vida calma e intemerata,
pelo vesgo contágio da ribalta
que lhe acena com brilho mercantil.
Na luxúria, no beijo que arrebata
das entranhas da carne o gozo vil,
paga o preço que a fama discutiu
nas premissas que o vero não retrata.
E colhe entre os abraços repentinos,
os laivos dos amores clandestinos,
em cavilosas juras gotejadas,
que tão cedo lhe explodem em desenganos,
martírio desses tratos levianos:
o alto custo das ninfas despejadas.
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J. G. de Araujo Jorge
Tarauacá/AC, 1914 – 1987, Rio de Janeiro/RJ
BOM DIA, AMIGO SOL!
Bom dia, amigo Sol! A casa é tua!
As bandas da janela abre e escancara,
– deixa que entre a manhã sonora e clara
que anda lá fora alegre pela rua!
Entre! Vem surpreendê-la quase nua,
doura-lhe as formas de beleza rara…
Na intimidade em que a deixei, repara
Que a sua carne é branca como a Lua!
Bom dia, amigo Sol! É esse o meu ninho…
Que não repares no seu desalinho
nem no ar cheio de sombras, de cansaços…
Entra! Só tu possuis esse direito,
– de surpreendê-la, quente dos meus braços,
no aconchego feliz do nosso leito!…
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José Antonio Jacob
Juiz de Fora/MG
FIM DE JORNADA
Enquanto minha pena versifica
Versos de amor em minha caderneta
Vejo passar o tempo na ampulheta,
– Mas na ampulheta o tempo sempre fica!
Tanta saudade sua não se explica…
Desenho um coração com a caneta
E dentro dele um nome clarifica…
Arranco a folha e a guardo na gaveta.
Finda a jornada vou ao bar ao lado,
Para esquecer o amor da minha vida
Tranquei lá no escritório o nome amado…
E, ainda, cansado dessa solidão,
Eu peço uma caneta e uma bebida
E escrevo o nome dela no balcão.
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Vinícius de Morais
Rio de Janeiro/RJ, 1913 – 1980
SONETO DA DEVOÇÃO
Essa mulher que se arremessa, fria
e lúbrica em meus braços, e nos seios
me arrebata e me beija e balbucia
versos, votos de amor e nomes feios.
Essa mulher, flor de melancolia
que se ri dos meus pálidos receios
a única entre todas a quem dei
os carinhos que nunca a outra daria.
Essa mulher que a cada amor proclama
a miséria e a grandeza de quem ama
e guarda a marca dos meus dentes nela;
essa mulher é um mundo! – uma cadela
talvez… – mas na moldura de uma cama
nunca mulher nenhuma foi tão bela!
Fontes:
Ademar Macedo. Mensagens Poéticas.
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