quinta-feira, 18 de março de 2021

Aparecido Raimundo de Souza (Coriscando) 13: Radicalmente eficaz


CHAMBRÓSIO BOITORADO, foi visitar seu amigo Parreira, que mora no Leme. Chamou um Uber, se aboletou no banco traseiro e, nele, se deslocou da Rua Sá Ferreira, até o prédio onde o rapaz residia, na Gustavo Sampaio. Assim que chegou no apartamento dele, percebeu que a dorzinha de cabeça que viera, de contrapeso, desde que saíra de casa, seguiu dando sinais de que não pretendia  lhe dar um segundo de paz.

A certa altura, enquanto jogavam xadrez, incomodado com a chateação que não o largava,  indagou do companheiro, se  ele não tinha algum remédio do qual pudesse fazer uso para se livrar do desconforto irritante que não o permitia  que se  concentrasse nas peças do tabuleiro.

—  Qualquer coisa serve, Parreira.

—  Credo, mano. Relaxa.

Parreira, todavia, antes de se levantar para ir buscar  o analgésico pedido, discorreu sobre uma receita diferente, segundo ele, mais rápida e objetiva. Quando se via acossado por alguma indisposição que teimava em deixa-lo em maus lençóis, saia à cata dela.

— Se me permite, amigo Chambrósio, vou lhe falar de um santo remédio que considero por demais porreta, embora não seja médico, mas que, tenho certeza, se você pudesse fazer uso dele, certamente sairia depressa, como um rato assustado,  deste seu sufoco impertinente.

— E qual é este milagroso, amigo Parreira?

— Seguinte: toda vez que me atormenta uma indisposição momentânea,  uma dor de cabeça, enxaqueca, ou sei lá mais o quê, vou até a casa de Luciana, minha ex-mulher. Fico por lá uma hora, uma hora e meia e, quando percebo que estou sarado, levanto acampamento...

— Interessante...

— Muito. Escuta só. Ainda não acabei, mano. Esta semana, me vi umas três vezes em palpos de aranha. Na terça, uma dor forte veio me bolinar as medidas, assim do nada, chegando a me embaralhar as ideias. Falei com minha secretária observando a ela que não voltaria e, de lá mesmo, do escritório, corri direto para a casa da Luciana...

— Uau...!

— Na quinta e na sexta, precisei repetir a façanha. Bati desesperado nos calcanhares da Luciana, e, como num passe de mágica, cara, uma hora depois, eu estava novinho em folha.

— A Luciana, sua ex, deveria ser uma boa enfermeira, ou médica, se não tivesse escolhido ser juíza de direito.

— Verdade, meu brother. Tem toda razão. Se ela tivesse optado pela medicina... Apesar disto, a danadinha sabe como fazer um sujeito estressado e cheio de problemas voltar à sua tranquilidade. Bastou uma hora, Chambrósio, uma hora e eu me vi renovado e pronto para outra.

— Folgo em saber. Cá entre nós. Acho que você ainda gosta dela. Vejo isto em seus olhos. Eles brilham, quando você toca no nome dela e seu tom de voz muda literalmente... Por que não tenta reatar?

— Sem chance, Chambrósio. De mais a mais, estou em outra. Ei, antes que me esqueça: você precisa conhecer a Ariranha.

— Quem?!

— Minha nova namorada. Daqui a pouco ela pinta aqui no pedaço. Ariranha é um mulherão, uma cavala para homem nenhum botar ou ver defeito. É a tal da ‘Perfeitinha’, aquela música cantada pelo Enzo Rabelo, filho do Bruno, da dupla sertaneja Bruno&Marrone.  

— Sei a qual se refere.  Só o nome da graciosa — , me perdoe a observação —, é meio estranho. Você não concorda? Ariranha?

— Eu gosto, Chambrósio. Não acho nada fora da normalidade. Eu rotularia o patronímico dela, de diferente, de exótico...

— De qualquer  forma, apesar destes predicados todos que você enumerou, sei que ainda ama a Luciana.

— Sai, fora, mano. Luciana já era.

— Se você está dizendo...

Em resposta, Parreira se levantou, foi até a cozinha pegou um copo de água, passou no banheiro, onde tinha uma farmacinha particular, e de lá voltou com um comprimido.

— Tome.

— Qué isto?

— Torcilax. Um relaxante muscular que logo deixará você se sentindo como se estivesse dentro do paraíso... Com uma Eva a sua disposição...

— Ok. Parreira, obrigado... Estava aqui pensando...

—... Em que, meu amigo?

—  Raciocina comigo. Se funciona com você, certamente daria certo para mim também...

— Não entendi. Seja mais objetivo. Do que você está falando?

— Da Luciana, sua ex.  Se quando você está mal, se entrega aos cuidados dela, me responda, sem mais delongas... Neste momento, caso a minha cabeça não passe... Onde eu poderia  encontrar Luciana, a sua ex?!      

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

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