segunda-feira, 29 de março de 2021

Professor Garcia (Mourão em sete pés) – 2


Obs: PG = Professor Garcia
ZL = José Lucas de Barros (Zé Lucas)

= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
 
1
 
ZL - Saudade, engenho parado
no coração nordestino.

PG - E um sonho sacrificado
no mais triste desatino.

ZL - São lembranças imortais
de tempos que não vêm mais,
nem que eu volte a ser menino!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

2

 PG - Parece que o meu destino
é de um feliz sonhador.

ZL - Há tempo eu também me afino
nesse agradável labor.

PG — Por isso é que sou feliz,
sonhar foi tudo que fiz
nesse mundo enganador!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

3

ZL — Como esperto viajor,
sigo o destino do vento.

PG - Eu também sou defensor
das ordens do pensamento.

ZL - Aprecio a linha reta,
mas faço, como poeta,
as curvas do Firmamento.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

4

PG - Eu comparo a voz do vento
com o murmúrio da cascata.

ZL — As folhas, em movimento,
sentem a brisa da mata.

PG — E os galhos vão se esfregando,
pouco a pouco vão cantando
a mais linda serenata!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

No início do mês de março de 2014, consultei o saudoso tio e magnífico poeta Zé Lucas sobre a possibilidade de uma peleja ente nós dois, ao ritmo do mourão em sete pés agalopado. Logo questionamos se esse estilo existia na nossa literatura cordeliana portuguesa ou mesmo se era, cantado pelos nossos geniais repentistas. Para surpresa nossa, após profunda pesquisa, não se identificou nenhum registro sobre o assunto.

Conclusão: Salve o melhor juízo, ou prova em contrário, acrescenta-se a nossa literatura, mais um gênero poético, sugerido por mim com a aprovação e o aval do saudoso Zé Lucas. Uma amostra dessa peleja entre nós, com estrofes- esparsas:

5

ZL - Até hoje, que eu saiba, ninguém fez
um só verso em mourão agalopado.

PG— Isto eu posso afirmar com sensatez
que está certo esse seu enunciado.

ZL — Tem de haver, para tudo, a vez primeira,
e, pra nós, não será de outra maneira,
porque o passo primeiro há de ser dado.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

6

PG - Se o primeiro ficou bem acabado
o segundo, começa sem defeito.

ZL - Cada remo trabalha do seu lado
para o barco nadar do melhor jeito.

PG - Navegando na vida, eu nada temo,
sou jangada que nada sem ter remo
sobre as ondas do mar, berço e meu leito.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

7

ZL - Não me queixo jamais de luta inglória,
porque tenho demais para o que fiz.

PG - Desse jeito, construo a minha história;
tendo pouco sou muito mais feliz.

ZL - Eu caminho em demanda de um lugar,
que é distante, mas sei que vou chegar,
não sei quando... Quem sabe não me diz.

Fonte:
Professor Garcia. Poemas do meu cantar. Natal/RN: Trairy, 2020.
Livro enviado pelo autor.

Nenhum comentário: