terça-feira, 30 de março de 2021

Aparecido Raimundo de Souza (Coriscando 14) Overdose

A MARIA DA GLÓRIA acabara de sair da UTI. Sofrera um parto de alto risco e, em consequência dele, precisou ser socorrida por uma equipe médica praticamente às carreiras. Não sabia do que ocorrera durante o procedimento, apenas que tudo havia terminado às mil maravilhas. Levada para o quarto particular e, após confortavelmente instalada, pintou no pedaço a Rosimeire, a enfermeira que esteve o tempo todo ao lado dela (antes do parto e após) e, assim que a viu, desejou um bom e agradável dia à nova mamãe do pedaço:

— Oi, Maria da Glória, bom dia. Tudo bem?

— Espero que sim...

— Eu sou a enfermeira chefe que ficou ao seu lado desde que deu entrada aqui na nossa Unidade.

— Legal. Como é seu nome?

— Rosimeire.

— E o meu bebê? É homem, ou mulher?

— Está preparada?

— Sim. Por favor, estou ansiosa.

— Parabéns. Você teve quadrigêmeos. Um menino e três meninas.

Com esta notícia, à queima roupa, a Maria da Glória quase desmaiou. Ficou branca feito uma vela. Pior, alva como uma folha de papel saída de uma resma de quinhentas folhas.

— Minha nossa! Quadrigêmeos?

— Sim, minha amiga e todos com a saúde perfeita. Logo eu os trarei para que os veja e dê de mamar aos pequenos. Carecerá fazer um revezamento... Não vai ser fácil...

— Tudo bem... Se é a vontade de Deus... Ele, com certeza, proverá. Só nos resta tocar em frente.

Rosimeire aproveitou a situação e falou do marido dela:

— Seu esposo, o mais novo papai, coitado!... Quase teve um probleminha, porém, agora, está fora de perigo. Foi mais, como eu diria, uma estupefação momentânea emocional, quando lhe demos a notícia...

— Meu pai do céu, o que houve com o Leo?

— Pois então, Maria da Glória... Quando ele soube... Quando ele soube dos quatro nascimentos...

— Fale de uma vez, Rosimeire! O que aconteceu ao meu Leo?

— Seu marido, amiga Maria da Glória, seu marido Leo...

— Pelo amor de Deus, desembucha de uma vez...

— Calma. Lembra que você ainda está em recuperação de suas forças. Foram quatro bebês. Respire fundo...

— Pronto, respirei...

— Mais uma vez...

— Vou ver o Senhor da Glória mais cedo, se você não cantar logo a pedra. Meu Leo, o que houve com o meu Leo?!

— Seu marido Leo... Ficou... Seu marido Leo ficou...

— Ficou o que, infeliz? Vomita logo e acaba com o meu martírio. Como é que ficou o meu Leo, ou como está o meu Leo?

E Rosimeire, alegre, saltitando de felicidade pelo dever cumprido e, sobretudo, por ter corrido tudo e nos conformes, em seu plantão, rindo, pois, de um canto a outro da boca, completou, eufórica, zombeteira:

— O seu Leo, minha amiga, o seu Leo…pardo!

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

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