Gustavo Adolfo do Amaral Ornellas
Rio de Janeiro/RJ, 1885 – 1923
IDÍLIO
Sentamo-nos os dois à beira-mar. As brumas
pardacentos dragões que o sol vai devorando –
trepavam pelo céu; e o oceano, calmo e brando,
calçava-nos os pés de alvíssimas espumas.
Várias conchas de cor ele arrastava, em bando,
pela cauda de arminho e de nevadas plumas;
muitas – frações de aurora – iam-se abrindo, e algumas,
quais pedaços do céu, iam na areia entrando.
E enquanto ela, sorrindo, o olhar pousava em tudo,
na alva cauda do mar, nas conchas, no veludo
na arcada celestial cheia de negros véus,
via-lhe o mar na veste, a espuma nos seus folhos,
e ficava admirando a concha dos seus olhos
que vive a enclausurar dois pequeninos céus.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Divenei Boseli
São Paulo/SP
LUZ
Se a vida fosse apenas um brinquedo
e o medo fosse apenas ilusão,
se o amor fosse despido de segredo
e a dedo se encolhesse uma emoção,
se a voz tivesse a força de um torpedo,
a pena fosse um traço de união
e as deusas, num telúrico bruxedo,
tornassem verdadeira a compreensão,
seriam não apenas operárias
da indústria, do comércio e mesmo agrárias
as tochas geradoras dessa luz
que eu penso poder ver quando a mulher
dispensa “Cirineus” e, como quer,
carrega sem ajuda a própria cruz!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Djalma Mota
Caicó/RN
SONETO DA REGENERAÇÃO
Sabemos que tem gente para tudo…
Tem até quem não goste de poesia!
Este, certamente de alma vazia,
tem no seu peito um coração miúdo
Poesia é sentimento de alegria.
É a força da expressão e, sobretudo,
transmissora eficaz do conteúdo
da essência que o poeta sempre cria.
Quem se opõe a poesia é desalmado!
Não merece amar e nem ser amado!
É um ser tristonho, de amargor profundo…
Porém, nem sempre é tarde a fazer parte
deste movimento que expressa a arte,
capaz de congraçar o amor no mundo.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Henriques do Cerro Azul
Fortaleza/CE, 1936 – 2015, Brasília/DF
CONTRASTE
Longe de ti, eu te imagino perto:
Vejo esse teu sorriso a todo instante;
Qual se te visse, o coração amante
É um doce ninho ao teu amor aberto.
Perto de ti, te julgo tão distante…
Nem mesmo vejo o teu sorriso incerto;
Com saudade de ti o peito aperto
Relembrando o fulgor do teu semblante.
Também tu és como eu: – os teus sentidos
Se enganam, como os meus, pelos caminhos…
E assim passamos desapercebidos
Do erro de nossos múltiplos carinhos:
– Quanto mais longe tanto mais unidos,
– Quanto mais juntos tanto mais sozinhos !
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Maria Nascimento S. Carvalho
Rio de Janeiro/RJ
CONTRADIÇÃO
Hoje, mais uma vez, desesperada
por ser injustamente preterida,
vejo que já nasci predestinada
a amar sem nunca ser correspondida …
Mas o que mais me dói, na despedida,
é saber que fui sempre desprezada
porque foste o anjo bom da minha vida
e eu da tua jamais pude ser nada.
Se me pudesse ver da eternidade,
chorando de tristeza e de saudade
pelo amor que no tempo se perdeu,
Carlos Drummond de Andrade me diria :
“ E agora “, como vais viver Maria,
sem o José que achavas que era teu?!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Oscar Macedo
Santana do Matos/RN, ????
COMPADECIDO…
Não tendo a quem contar as minhas dores,
ao velho mar me dirigi um dia.
Para aumentar porém meus dissabores,
reconheci que ele também sofria.
Confidente dos homens sofredores,
cobriu-se, ao ver-me, de uma espuma fria
e num gesto de quem confidencia
pôs-se a escutar tranquilo os meus clamores.
Contei-lhe tudo, confessei as mágoas,
mais profundas, talvez, que suas águas,
mostrei-lhe enfim meu coração dorido.
E o mar que até então ficara mudo,
ouvindo a triste narração de tudo,
pôs-se a chorar de mim compadecido.
Fontes:
Ademar Macedo. Mensagens Poéticas.
Rio de Janeiro/RJ, 1885 – 1923
IDÍLIO
Sentamo-nos os dois à beira-mar. As brumas
pardacentos dragões que o sol vai devorando –
trepavam pelo céu; e o oceano, calmo e brando,
calçava-nos os pés de alvíssimas espumas.
Várias conchas de cor ele arrastava, em bando,
pela cauda de arminho e de nevadas plumas;
muitas – frações de aurora – iam-se abrindo, e algumas,
quais pedaços do céu, iam na areia entrando.
E enquanto ela, sorrindo, o olhar pousava em tudo,
na alva cauda do mar, nas conchas, no veludo
na arcada celestial cheia de negros véus,
via-lhe o mar na veste, a espuma nos seus folhos,
e ficava admirando a concha dos seus olhos
que vive a enclausurar dois pequeninos céus.
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Divenei Boseli
São Paulo/SP
LUZ
Se a vida fosse apenas um brinquedo
e o medo fosse apenas ilusão,
se o amor fosse despido de segredo
e a dedo se encolhesse uma emoção,
se a voz tivesse a força de um torpedo,
a pena fosse um traço de união
e as deusas, num telúrico bruxedo,
tornassem verdadeira a compreensão,
seriam não apenas operárias
da indústria, do comércio e mesmo agrárias
as tochas geradoras dessa luz
que eu penso poder ver quando a mulher
dispensa “Cirineus” e, como quer,
carrega sem ajuda a própria cruz!
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Djalma Mota
Caicó/RN
SONETO DA REGENERAÇÃO
Sabemos que tem gente para tudo…
Tem até quem não goste de poesia!
Este, certamente de alma vazia,
tem no seu peito um coração miúdo
Poesia é sentimento de alegria.
É a força da expressão e, sobretudo,
transmissora eficaz do conteúdo
da essência que o poeta sempre cria.
Quem se opõe a poesia é desalmado!
Não merece amar e nem ser amado!
É um ser tristonho, de amargor profundo…
Porém, nem sempre é tarde a fazer parte
deste movimento que expressa a arte,
capaz de congraçar o amor no mundo.
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Henriques do Cerro Azul
Fortaleza/CE, 1936 – 2015, Brasília/DF
CONTRASTE
Longe de ti, eu te imagino perto:
Vejo esse teu sorriso a todo instante;
Qual se te visse, o coração amante
É um doce ninho ao teu amor aberto.
Perto de ti, te julgo tão distante…
Nem mesmo vejo o teu sorriso incerto;
Com saudade de ti o peito aperto
Relembrando o fulgor do teu semblante.
Também tu és como eu: – os teus sentidos
Se enganam, como os meus, pelos caminhos…
E assim passamos desapercebidos
Do erro de nossos múltiplos carinhos:
– Quanto mais longe tanto mais unidos,
– Quanto mais juntos tanto mais sozinhos !
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Maria Nascimento S. Carvalho
Rio de Janeiro/RJ
CONTRADIÇÃO
Hoje, mais uma vez, desesperada
por ser injustamente preterida,
vejo que já nasci predestinada
a amar sem nunca ser correspondida …
Mas o que mais me dói, na despedida,
é saber que fui sempre desprezada
porque foste o anjo bom da minha vida
e eu da tua jamais pude ser nada.
Se me pudesse ver da eternidade,
chorando de tristeza e de saudade
pelo amor que no tempo se perdeu,
Carlos Drummond de Andrade me diria :
“ E agora “, como vais viver Maria,
sem o José que achavas que era teu?!
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Oscar Macedo
Santana do Matos/RN, ????
COMPADECIDO…
Não tendo a quem contar as minhas dores,
ao velho mar me dirigi um dia.
Para aumentar porém meus dissabores,
reconheci que ele também sofria.
Confidente dos homens sofredores,
cobriu-se, ao ver-me, de uma espuma fria
e num gesto de quem confidencia
pôs-se a escutar tranquilo os meus clamores.
Contei-lhe tudo, confessei as mágoas,
mais profundas, talvez, que suas águas,
mostrei-lhe enfim meu coração dorido.
E o mar que até então ficara mudo,
ouvindo a triste narração de tudo,
pôs-se a chorar de mim compadecido.
Fontes:
Ademar Macedo. Mensagens Poéticas.
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