sábado, 20 de março de 2021

Paulo R. O. Caruso (Cronista crônico)


Pensei em escrever um poema. Mas de que tipo? Um poema livre ou algum que seguisse uma fórmula? Liguei o microcomputador e, a seguir, diante do buraco negro da tela em branco, pensei num cordel. Entretanto, o que me deixou claudicante é que eram já onze e meia da noite, sendo que eu iria para a cama dentro de meia-hora, para depois acordar às cinco da matina rumo ao labor de cada dia. Logo, abandonei a proposta de escrever um cordel, que jamais é um poemeto, mas sim reúne muitas estrofes e, devido à exiguidade do tempo, comecei a cogitar me dedicar a um soneto...

Ora, um soneto tem quatorze versos e poderia ser deca, dodeca, setissilábico ou até mesmo bárbaro, além de poder ser ao estilo italiano ou inglês e... Faltavam já vinte minutos, o que me fez abortar a segunda cogitação.

Tendo desistido da segunda possível empreitada, cogitei uma trova, que é composta por quatro versos setissilábicos e tem rima ABAB. Contudo, às quinze para a meia noite eu ainda não sabia que tema utilizar entre os de concursos de trovas com prazo ainda aberto para inscrições! Fora que eu nem mais me lembrava de quais temas exigiam abordagem lírico-filosófica ou humorística! Bem, agora já eram dez para meia-noite...

Pensei depois em escrever um haicai... Só três versinhos! Cinco sílabas poéticas no primeiro e no terceiro versos, além de sete no segundo! Ocorre que eu sou dos poucos que prefere escrevê-los com as rimas que a tendência oriental apregoa, mas, depois de anos, nos derradeiros três meses comecei enfim a adotar o modelo ocidental, isto é, não rimado. A dúvida sobre tema e estilo durou mais alguns minutos, o que me fez cogitar a adoção de uma aldravia... Você conhece aldravia?

Pois bem, aldravia é um poemeto sintético derivado do verbete “aldrava” (batedor de porta de madeira maciça, a grosso modo). Porém, como este que lhe escreve é um sujeito chato e indeciso, o que, diante do relógio indicando dois minutos para a meia-noite, me fez largar até mesmo a ideia de um simples poemeto composto verticalmente por seis palavras, cada qual ocupando uma linha! Logo, o que foi que me sobrou? Esta crônica!
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4. Lugar no 1º Concurso de Crônicas da Academia Internacional da União Cultural na categoria "Acadêmicos Efetivos".

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