Ela havia nascido no fundo do mar, a partir de um alegre e doloroso encontro entre um grão de areia e uma pequena ostra.
Quando ela apareceu, as suas companheiras ficaram muito felizes. Até mesmo a rainha do mar ficou admirada com aquela pérola rara e maravilhosa, e a circundou de cuidados particulares.
Todos os dias, ao amanhecer, a ostra, já crescida, se abria e a pérola se deixava acariciar pelo Sol, refletindo seus raios ao redor, para a alegria de todos.
Mas o inverno chegou. Os dias passavam e o Sol não aparecia mais. Ficava escondido atrás das nuvens.
A pérola esperava que a luz do Sol voltasse, mas enquanto isso não acontecia, o seu brilho diminuía cada vez mais. Mesmo assim, incrustada no banco de corais no fundo do mar, ela procurava alegrar os peixes que vagueavam ao seu redor. Porém, quanto mais o tempo passava, mais ela se sentia invadida pela escuridão.
A rainha do mar sabia de tudo o que estava acontecendo e lhe mandou um mensageiro.
A pérola, que já sentia a morte chegando, foi colocada em uma baía de águas baixas e límpidas, onde dezenas de pequenas pérolas estavam crescendo. O Sol resplandecia naquelas águas, mas a pérola rara não conseguia mais vê-lo.
Era como se os longos meses sem o Sol lhe tivessem tirado a visão.
Mesmo assim ela estava feliz por estar naquela baía, porque soubera que havia sido a rainha do mar a mandá-la para aquelas águas.
Embora não conseguindo ver a luz do Sol, ela não era insensível ao calor dos reflexos - se bem que ainda fracos - que as pequenas pérolas lhe mandavam.
Para ela, que havia irradiado os raios de Sol, não era nenhum sacrifício retribuir a atenção das perolazinhas, refletindo os pequenos raios de luz que recebia.
Essa troca era como um bálsamo para ela e lhe dava um pouco de paz.
As pequenas pérolas, que a viam como predileta entre todas, queriam aprender a refletir os raios de Sol como ela fazia.
A pérola amava as perolazinhas e não queria decepcioná-las, confidenciando-lhes que estava cega.
Por isso não disse nada e fez por elas o que sempre tinham feito quando a ostra se abria.
E as perolazinhas viam luz... Luz... Luz... mesmo se a pérola só sentia escuridão... Escuridão... Escuridão.
Só à noite, quando ninguém a via, a pérola rara derramava uma lágrima no segredo da ostra.
Uma noite, o mensageiro, enviado pela rainha do mar, chegou àquela baía e foi bater na porta da ostra. Quando ela se abriu, grande foi a surpresa de todos.
Do centro da ostra, onde a pérola repousava, brotava uma luz intensa, semelhante àquela do Sol.
O amor lhe tinha ensinado a transformar a escuridão em luz.
Fonte:
Universo das Fábulas.
Universo das Fábulas.
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