Esse é um dos estilos poéticos cantados pelos nossos magníficos repentistas, que nos proporcionam momentos de rara beleza e encantamento, porque prova a velocidade do raciocínio e da inteligência dos cantadores. Via de regra, quem começa já imagina o fechamento da estrofe; mas o oponente, ao perceber, muda essa ideia na tentativa de deixar o colega em dificuldade.
Alguns exemplos a seguir entre Prof. Garcia (PG) e Zé Lucas (ZL)
PG - Todo mourão me enternece
seja do jeito que for.
ZL - Eu vibro quando ele cresce
na voz de um bom cantador.
PG - Mourão que é bem feito em sete,
verso nenhum se repete
na lira de um trovador!
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PG - A abelha da jandaíra
é uma operária sofrida.
ZL - Na natureza se inspira,
fabricando o mel da vida.
PG - Meu Deus! e o que faço agora,
se a jandaíra de outrora,
já foi de morte, ferida!
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ZL - No piso de meu curral,
só quero vaca leiteira.
PG - E eu quero no meu quintal
o canto da cachoeira.
ZL - Quando a cachoeira canta
o rio, que se levanta,
vem de barreira a barreira.
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PG - Me lembro da bordadeira
na varanda da fazenda.
ZL - E uma cabocla faceira
tecendo bico de renda,
PG - Esse passado tão lindo
pouco a pouco foi sumindo;
no meu sertão, virou lenda!
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ZL - Espremida na moenda,
virava bagaço a cana.
PG - E o bagaço era oferenda
no terreiro da choupana.
ZL - No sabor da rapadura
concentrava-se a doçura
do mel da cana caiana.
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PG - O engenho de moer cana,
referência do passado,
ZL - Hoje é saudade tirana
de um sonho desmoronado.
PG - Para falar a verdade,
é meu mundo de saudade
dentro do peito guardado!
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ZL- Eu defendo a virgem mata,
onde a paz ainda habita.
PG — Onde a lua cor de prata
deixa a noite mais bonita.
ZL - Se, ali, alguém que não presta,
ferir de morte a floresta,
até o silêncio grita!
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PG - Quem usa a foice maldita
para uma planta cortar.
ZL - Com a lei divina se atrita,
pisoteia o verbo amar!
PG - Quem queima e que tudo corta,
deixa a natureza morta
e a terra triste a chorar!
Fonte:
Professor Garcia. Poemas do meu cantar. Natal/RN: Trairy, 2020.
Livro enviado pelo autor.
Professor Garcia. Poemas do meu cantar. Natal/RN: Trairy, 2020.
Livro enviado pelo autor.
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