sábado, 31 de julho de 2021

Filemon F. Martins (Poemas Escolhidos) XI

COBRANÇA


Voltei no tempo para ver amigos
dos tempos idos, sonhos de rapaz.
Lembrei de amores novos e de antigos;
- alguns se foram, já estão em paz.

O tempo traz lembranças e castigos,
a tal felicidade é tão fugaz,
quase sempre nos faz pobres mendigos
a implorar um amor que nunca traz.

Não sei se cometi um erro crasso,
não posso reclamar do meu fracasso,
foi alto o preço que paguei, talvez.

Porquanto a vida cedo ou tarde, cobra
erros, deslizes ou qualquer manobra
sem explicar porque é nossa vez.
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JULGAMENTO

Não me passou jamais pela cabeça
julgar e condenar qualquer pessoa.
Quem não tiver pecado, que apareça,
- jogue a pedra que fere e que magoa,

"Não julgueis". Que este mundo não esqueça
da mensagem do Mestre, que ressoa
para que a Luz divina resplandeça
sobre os homens que têm vontade boa.

Minha vida eu guiei pela Esperança,
pela decência do viver honesto,
- quantas vezes paguei um alto preço?

Não me fascina a glória da abastança,
prefiro o meu viver sempre modesto,
e tenho, com certeza, o que mereço!
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LEMBRANDO RUI

Não me seduz o fausto da riqueza,
nem o brilho da glória e do poder.
Exemplos já são muitos da esperteza
que alguns humanos imaginam ter.

São nocivos à própria Natureza,
a ganância é maior e dá prazer.
Só o lucro interessa com certeza,
o pobre que se dane em seu viver.

Dizem que o Mundo está globalizado,
pois tudo é permitido no mercado,
foi-se a decência que o poeta sonha...

A corrupção cada vez é mais danosa,
tinha razão o grande Rui Barbosa:
ser honesto é motivo de vergonha!
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MARCAS

Vou procurando pelo mundo afora
buscando aqui e ali um novo abraço,
que a vida sem amor não tem aurora
e se transforma no maior fracasso.

É triste ver a mágoa de quem chora,
- o verdadeiro amor não é devasso.
A vida se desfaz e vai embora
e o sentimento acaba em descompasso.

Ainda assim recordo aquele sonho,
quando vivi o amor feliz, risonho,
que o destino, invejoso, me levou.

E quando olho no espelho do meu rosto
vejo as marcas da dor e do desgosto
lembrando o amor que um dia me deixou.
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MELANCOLIA

A tarde começou chuvosa e triste,
no coração bateu uma saudade,
parece que a tristeza ainda insiste
em ditar moda após a mocidade.

A noite surge bela e não resiste
à luz da lua bailando na cidade,
meu coração é forte e não desiste
desse amor sensual que o peito invade.

Meu sonho já não é tão colorido,
por isso, às vezes, fico comovido
sentindo a dor de quem nunca viveu,

E vou levando a minha desventura
cantando um salmo alegre de Ternura
para esquecer que a vida me esqueceu!

Fonte:
Filemon Francisco Martins. Anseios do coração.
São Paulo: Scortecci, 2011.
Livro enviado pelo autor.

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