quinta-feira, 24 de março de 2022

Estante de Livros (“Uma paixão no deserto”, de Honoré de Balzac)


Uma Paixão no Deserto (Une passion dans le désert) é um conto de Honoré de Balzac publicado em 1837 nas edições Delloye et Lecou no tomo XVI dos Estudos filosóficos de "A Comédia Humana". Balzac já havia publicado uma versão em 1830 na "Revue de Paris". É considerada uma das suas melhores narrativas breves.

O livro traz três contos de Balzac: Uma paixão no deserto, O carrasco e A estalagem vermelha. Todos os contos ambientados no período das guerras napoleônicas. Uma paixão no deserto narra uma amizade incomum entre um soldado perdido no deserto e uma pantera, O carrasco mostra o extermínio de uma nobre família espanhola e A estalagem vermelha narra o destino de dois amigos que foram cúmplices de um crime,sendo que apenas um deles foi legalmente condenado. Os três contos tem em comum algo peculiar ao ser humano:o instinto de sobrevivência, que o faz cometer atos de qualquer natureza. É um passeio sobre a condição humana, suas ambições, egoísmos e mesquinhez.

O soldado perdido no deserto acha refúgio em uma gruta e consegue domesticar uma pantera pela qual sente alguma forma de amor. Como única companhia no deserto, o homem projeta emoções humanas na fera, com quem vive em miraculosa harmonia. Um dia, contudo, um gesto brusco lhe dá a impressão de que o animal vai devorá-lo e ele o apunhala. Ele se apercebe tardiamente de que o gesto era um sinal de afeição da parte do animal. O narrador é um homem que, um dia, encontrou o soldado num espetáculo de um domador de feras. A historia desse encontro serve de narrativa moldura. Ele conta o relato do soldado à sua companheira.

O conto Uma paixão no deserto de Honoré de Balzac, está carregado de elementos estruturais que o associam à história do colonialismo no tocante ao comportamento das culturas em choque. Sua peculiaridade está na relação que ele apresenta com o realismo do autor, o que permite verificar um tratamento estético ou um questionamento do colonialismo, em certa medida, diferente do que era feito até então, apesar de este tema ter sido exaustivamente explorado pela literatura de todo o período colonial e pós-colonial. A partir das considerações sobre o realismo literário moderno colocadas por Lukács e por Auerbach, é possível demonstrar que o realismo balzaqueano é responsável por uma abordagem muito mais grave do tema, discutindo o Outro dentro da complexidade do universal humano.

Este realismo e a eficiência na representação literária conduzem uma narrativa extremamente tensa e carregada de significado histórico e social, não obstante a brevidade do texto. O conto também oferece uma abertura para o diálogo entre diferentes narrativas (não europeias, inclusive), pois vários de seus aspectos estão presentes de formas peculiares em outros textos literários. O conto de Balzac tem como ponto de partida para traçar uma cadeia de argumentações com base na constatação de que, entre os universais humanos, sempre haverá um lugar para a negação do Outro.

Fontes:
Maria Braga Barbosa. Uma Paixão no Deserto: o conto de Balzac como metáfora do choque de culturas no colonialismo. Excerto do resumo. Disponível no repositório da Universidade de Brasília.
Wikipedia
Skoob

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