“O Primo Basílio” narra a história de amor entre o casal Jorge e Luísa, e a infidelidade da esposa com seu primo, Basílio. A obra de Eça de Queirós, publicada em 1878, consiste na análise da família burguesa da época e faz parte dos clássicos da literatura portuguesa.
RESUMO
A história de “O Primo Basílio” gira em torno de Jorge e Luísa, um típico casal burguês da classe média da sociedade lisboeta do século XIX. Jorge é um engenheiro, pertencente a burguesia abastada de Lisboa, assim como sua esposa Luísa.
Quando sua mãe morreu, porém, começou a achar-se só: era no inverno, e o seu quarto nas traseiras da casa, ao sul, um pouco desamparado, recebia as rajadas do vento na sua prolongação uivada e triste, sobretudo à noite, quando estava debruçado sobre o compêndio, os pés no capacho, vinham-lhe melancolias lânguidas, estirava os braços, com o peito cheio de um desejo, queria enlaçar uma cinta fina e doce, ouvir na casa o frufru de um vestido! Decidiu casar. Conheceu Luísa, no verão, à noite, no Passeio. Apaixonou-se pelos seus cabelos louros, pela sua maneira de andar, pelos seus olhos castanhos muito grandes. No inverno seguinte foi despachado, e casou.
Luísa recebe uma carta informando que em breve seu primo Basílio a visitaria. Nesse mesmo período, o seu marido faz uma viagem de trabalho, a deixando em companhia do primo e dos serviçais.
Além de primos, Luísa e Basílio namoraram durante a juventude, antes dele se mudar para Paris. Tomados pelos sentimentos do passado, os dois desenvolvem um caso extraconjugal.
Luísa era uma ávida leitora e tinha uma visão romântica da vida. Sonhadora, começa a vislumbrar em Basílio uma história de amor como as dos romances que lia.
“Que vida interessante a do primo Basílio!” – pensava. – “O que ele tinha visto!” Se ela pudesse também fazer as suas malas, partir, admirar aspectos novos e desconhecidos, a neve nos montes, cascatas reluzentes! Como desejaria visitar os países que conhecia dos romances – a Escócia e os seus lagos taciturnos, Veneza e os seus palácios trágicos; aportar às baias, onde um mar luminoso e faiscante morre na areia fulva, e das cabanas dos pescadores de teto chato, onde vivem as Grazielas, ver azularem-se ao longe as ilhas de nomes sonoros! E ir a Paris! Paris sobretudo! Mas, qual! Nunca viajaria decerto, eram pobres. Jorge era caseiro, tão lisboeta!
Para tornar a relação mais discreta, os amantes alugam um quarto bastante simples no subúrbio de Lisboa, que chamam de “paraíso”. Os encontros acontecem a partir da troca de cartas de amor.
Apesar da cautela de ambos, uma das cartas é interceptada por Juliana, a governanta da casa de Luísa, que já havia notado o romance entre a patroa e o primo.
Juliana buscava uma oportunidade de ascensão social, desta forma, passa a chantagear Luísa. Com o passar do tempo, a prima começa a sentir que a paixão de Basílio já não é tão forte. Tenta convencê-lo a ficar, mas ele decide voltar para Paris.
O que havia de infeliz em abandonar a sua vida estreita entre quatro paredes, passada a examinar róis de cozinha e a fazer crochê, e partir com um homem novo e amado, ir para Paris! Para Paris! Viver nas consolações do luxo, em alcovas de seda, com um camarote na Ópera! … Era bem tola em se afligir! Quase fora uma felicidade aquele “desastre”! Sem ele nunca teria tido a coragem de se desembaraçar da sua vida burguesa; mesmo quando um alto desejo a impelisse, haveria sempre uma timidez maior para a reter! E depois, fugindo, o seu amor tornava-se digno! Seria só de um homem; não teria de amar em casa e amar fora de casa!
Com o retorno de Jorge, Luísa passa a sofrer ainda mais com as chantagens da governanta, que até transforma a senhora mimada em escrava, obrigando-a a realizar alguns serviços domésticos.
O marido estranha o comportamento da criada e decide despedi-la. Desempregada e em posse das cartas, Juliana intensifica as chantagens pedindo uma alta quantia em dinheiro para não revelar o segredo da ex-patroa.
Cansada das chantagens após tentar todas as soluções possíveis, Luísa não vê outra alternativa senão pedir ajuda. Ela recorre a Sebastião, conta sobre o adultério e a história das chantagens realizadas por Juliana.
Sebastião era um velho amigo de Jorge, e mesmo surpreso, se dispõe a ajudar. O homem logo pressiona a empregada que mesmo resoluta, resolve devolver as cartas.
Desesperançada por perder a oportunidade de enriquecimento, Juliana entra em colapso e morre de desgosto. Luísa, por sua vez, também acaba adoecendo.
Tempos depois, Luísa, que está acamada pelas altas febres, recebe a resposta de uma das cartas escrita há meses ao primo. Curioso, Jorge recebe e a abre, descobrindo o adultério da esposa nas palavras amorosas e cheias de saudade de Basílio.
Jorge foi heroico durante toda essa tarde. Não podia estar muito tempo na alcova de Luísa, o desespero trazia-o num movimento contraditório, mas ia lá a cada momento, sorria-lhe, aconchegava-lhe a roupa com as mãos trêmulas, e ela adormecia, ficava imóvel a olhá-la feição por feição, com uma curiosidade dolorosa e imoral, como para lhe surpreender no rosto vestígios de beijos alheios, esperando ouvir-lhe nalgum sonho da febre murmurar um nome ou uma data, e amava-a mais desde que a supunha infiel, mas de um outro amor, carnal e perverso. Depois ia-se fechar no escritório, e movia-se ali entre as paredes estreitas, como um animal numa jaula. Releu a carta infinitas vezes, e a mesma curiosidade roedora, baixa, vil, torturava-o sem cessar: Como tinha sido? Onde era o Paraíso? Havia uma cama? Que vestido levava ela? O que lhe dizia? Que beijos dava?
Por fim, o marido conforta Luísa. O frágil estado de saúde e o forte amor que lhe tem fazem Jorge perdoar a traição da esposa, que morre dias depois.
Com a morte da amada, ele demite as empregadas e vai morar com Sebastião. Basílio retorna a Lisboa e, ao saber da morte da amante, faz pouco caso, pois não considerava Luísa adequada para sua classe.
ANÁLISE DA OBRA
Publicado em 1878 por Eça de Queirós, o livro “O Primo Basílio” trata-se de um romance que analisa a sociedade burguesa urbana do século XIX. A construção da obra através de personagens aparentemente felizes e perfeitos, retrata a futilidade daquela época.
O livro inovou a criação literária, oferecendo uma crítica subversiva e sarcástica dos costumes da pequena burguesia de Lisboa, atacando uma das instituições consideradas mais sólidas, o casamento.
A figura dessa sociedade é estereotipada em personagens decadentes, desprovidos de virtudes, desfrutando de sentimentos fúteis. Pertencente ao movimento do realismo em Portugal, a obra de Eça explora o adultério, a hipocrisia, o caráter, a mediocridade e os valores morais.
PRINCIPAIS PERSONAGENS
Basílio: conquistador e irresponsável, primo de Luísa que mora em Paris, foi seu namorado na infância e torna-se amante da mesma durante uma visita a Lisboa, contudo nunca a amou;
Luísa: jovem romântica, dona de casa, burguesa, casada com Jorge e adúltera. Amou seu primo Basílio, mas não foi correspondida;
Jorge: jovem engenheiro, homem simples e marido dedicado, casado e traído por Luísa com o primo Basílio;
Juliana: empregada do casal Luísa e Jorge, mulher feia, solteirona e bastarda. Inconformada com sua posição social passa a chantagear a patroa e acaba morrendo de desgosto;
Sebastião: fiel amigo de Jorge.
ADAPTAÇÕES
Em 1988, a Rede Globo produziu a minissérie “O Primo Basílio”. A trama foi adaptada por Gilberto Braga e Leonor Bassères, com direção de Daniel Filho.
Em 2007, a obra de Eça de Queirós ganhou uma adaptação para o cinema brasileiro. Com direção de Daniel Filho, o romance foi adaptado por Euclydes Marinho e conta com atuação de Débora Falabella (no papel de Luísa), Fábio Assunção (no papel de Basílio), Reynaldo Gianecchini (no papel de Jorge) e Glória Pires (no papel de Juliana).
Faça o download do PDF do livro “O Primo Basílio”
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