(Folclore do Sergipe)
HAVIA UMA MOÇA CASADA muito bonita. Por sua porta passava sempre um caboclo e numa ocasião virou-se para ela e disse-lhe: “Adeus, meu cravo.” A moça fez que não ouviu e calou-se.
No outro dia o caboclo passou e tornou a dizer a mesma coisa. A moça, não podendo mais chegar à janela, porque todas as vezes que o caboclo passava, dizia-lhe: “Adeus, meu cravo”, queixou-se ao marido.
Este disse-lhe: “Não te importes, e quando ele te disser ‘adeus, meu cravo’, tu responde-lhe ‘adeus, minha rosa’, e deixa o resto por minha conta.”
No dia seguinte o caboclo passou e repetiu: “Adeus, meu cravo.”
No dia seguinte o caboclo passou e repetiu: “Adeus, meu cravo.”
Ela virou-se para ele e respondeu: “Adeus, minha rosa.”
O caboclo saiu rindo-se de contente e no outro dia já não disse “Adeus, meu cravo”, e sim perguntou à moça se ela dava licença a ele ir à casa dela à noite.
A senhora ficou incomodadíssima e não deu-lhe resposta. Chegando o marido, ela participou-lhe o ocorrido, ao que ele respondeu: “Amanhã dize-lhe que eu fiz uma viagem e que tu dás licença para ele vir conversar contigo à noite.”
Quando o caboclo passou dirigiu à moça a mesma pergunta, esta respondeu-lhe tudo quanto o marido tinha lhe dito. À noite chegou o caboclo, indo muito cheiroso e bem vestido. Já o marido da moça tinha munido dois criados, cada qual com um chicote de couro cru, e mandado deitar debaixo da cama grande porção de cansanção*.
O caboclo logo que foi chegando disse à moça que queria ir para o quarto e que ela apagasse a luz que o estava incomodando. Depois tirou toda a roupa com que estava vestido e deitou-se dizendo que estava com muito sono. Nisto o marido da moça fingiu ter chegado da viagem e esta disse ao caboclo que se escondesse debaixo da cama. O moço entrou e deitou-se, alegando que vinha muito cansado.
De espaço a espaço ele ouvia como que uma espécie de grunhido sair debaixo da cama. Passado um bom pedaço e o rapaz ouvindo sempre a mesma coisa, perguntou:
“Quem está aí?”
Responde-lhe o caboclo: “Sou eu, cachorro.”
Diz o moço: “Oh, e cachorro fala?”
Replica-lhe o caboclo: “Falo eu.”
Aí o moço levantou-se e com uma luz na mão olhou para debaixo da cama e viu o caboclo no meio dos cansanções, inchado como uma pipa e todo se coçando. O moço chamou os criados que já estavam preparados e ordenou: “Empurrem-lhe o chicote”.
O caboclo depois de ter levado uma tunda, saiu que mal acertava o caminho de casa. Levou muito tempo se tratando da grande surra que levou.
Depois de muito tempo e quando já estava bom, passou de novo o caboclo pela porta da moça, mas muito desconfiado e de cabeça baixa.
Esta para bulir com ele disse-lhe: “Adeus, meu cravo.”
Ele virou-se para ela e respondeu muito zangado: “Adeus, seu diabo!”
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* Cansanção = planta comum no Nordeste, cuja principal característica é o fato de provocarem, assim como a urtiga, a sensação de queimadura ao toque com a pele. Ao contrário da urtiga, porém, seu efeito urticante e vesiculante (causador de bolhas) é maior e mais agudo, bastando para tanto o simples contato com seus pelos, ao pé dos quais há uma cápsula com o líquido agressivo.
A senhora ficou incomodadíssima e não deu-lhe resposta. Chegando o marido, ela participou-lhe o ocorrido, ao que ele respondeu: “Amanhã dize-lhe que eu fiz uma viagem e que tu dás licença para ele vir conversar contigo à noite.”
Quando o caboclo passou dirigiu à moça a mesma pergunta, esta respondeu-lhe tudo quanto o marido tinha lhe dito. À noite chegou o caboclo, indo muito cheiroso e bem vestido. Já o marido da moça tinha munido dois criados, cada qual com um chicote de couro cru, e mandado deitar debaixo da cama grande porção de cansanção*.
O caboclo logo que foi chegando disse à moça que queria ir para o quarto e que ela apagasse a luz que o estava incomodando. Depois tirou toda a roupa com que estava vestido e deitou-se dizendo que estava com muito sono. Nisto o marido da moça fingiu ter chegado da viagem e esta disse ao caboclo que se escondesse debaixo da cama. O moço entrou e deitou-se, alegando que vinha muito cansado.
De espaço a espaço ele ouvia como que uma espécie de grunhido sair debaixo da cama. Passado um bom pedaço e o rapaz ouvindo sempre a mesma coisa, perguntou:
“Quem está aí?”
Responde-lhe o caboclo: “Sou eu, cachorro.”
Diz o moço: “Oh, e cachorro fala?”
Replica-lhe o caboclo: “Falo eu.”
Aí o moço levantou-se e com uma luz na mão olhou para debaixo da cama e viu o caboclo no meio dos cansanções, inchado como uma pipa e todo se coçando. O moço chamou os criados que já estavam preparados e ordenou: “Empurrem-lhe o chicote”.
O caboclo depois de ter levado uma tunda, saiu que mal acertava o caminho de casa. Levou muito tempo se tratando da grande surra que levou.
Depois de muito tempo e quando já estava bom, passou de novo o caboclo pela porta da moça, mas muito desconfiado e de cabeça baixa.
Esta para bulir com ele disse-lhe: “Adeus, meu cravo.”
Ele virou-se para ela e respondeu muito zangado: “Adeus, seu diabo!”
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* Cansanção = planta comum no Nordeste, cuja principal característica é o fato de provocarem, assim como a urtiga, a sensação de queimadura ao toque com a pele. Ao contrário da urtiga, porém, seu efeito urticante e vesiculante (causador de bolhas) é maior e mais agudo, bastando para tanto o simples contato com seus pelos, ao pé dos quais há uma cápsula com o líquido agressivo.
Fonte:
Sílvio Romero. Contos populares do Brasil. Coleção Acervo Brasileiro vol. 3. Jundiaí/SP: Cadernos do Mundo Inteiro, 2018. Publicado originalmente em 1954.
Livro enviado por Sammis Reachers.
Sílvio Romero. Contos populares do Brasil. Coleção Acervo Brasileiro vol. 3. Jundiaí/SP: Cadernos do Mundo Inteiro, 2018. Publicado originalmente em 1954.
Livro enviado por Sammis Reachers.
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