quinta-feira, 24 de março de 2022

Luiz Damo (Trovas do Sul) XXVII

A lua em seu plenilúnio
esbanja fulgor e encanto,
para que em seu novilúnio
lance à noite o negro manto.
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Ao começar mais um dia
olhe no espelho da vida,
diga à imagem, na alegria,
a luta há de ser vencida!
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A vida esconde segredos,
que nem todo homem entende,
este vive imerso em medos
e em falsas crenças se prende.
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Cada letrinha interposta
no papel branco da vida,
sempre revela a resposta
da pergunta, quando lida.
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Cinco minutos na fila,
têm sabor de eternidade,
pior quando se afunila
e está apenas na metade.
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Com a tarde não se iluda,
a noite vem e a domina,
treva em luz, a lua muda,
e o sol o dia ilumina.
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De cada pedra que arrasa,
ou deturpa o teu projeto,
ergue as paredes da casa
sem esqueceres do teto.
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Fonte da vida mais terna,
família, berço do afeto,
pais e filhos, senda eterna,
trilham sob o mesmo teto.
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Mentir com atrevimento
sem remorso e sem piedade,
nunca falta um argumento
para esconder a verdade.
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O amargo do chimarrão
torna mais doce a amizade
e a cuia, de mão em mão,
distribui felicidade.
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O amor puro e verdadeiro
não deve ser confundido,
com um elo interesseiro
de egoísmo revestido.
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O entardecer na floresta
surge à sombra da magia,
as aves vibram em festa
no final de mais um dia.
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O perdão nunca acontece
longe do arrependimento,
o que pede, sempre cresce,
e quem dá sente um alento.
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O vento sopra voraz
e arrasa tudo onde passa,
cospe o pó, deixando atrás
rastros de espessa fumaça.
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Pelos caminhos terrenos
busca a paz, planta amizade,
colherás frutos amenos
nos campos da eternidade.
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Quando o frio bate à porta
ouve em gritos, do vivente,
fica fora e te comporta,
porque aqui dentro está quente!
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Quando o vivente aparece
de lenço rubro abanando,
de per si a cena esclarece:
um gaúcho vem chegando!
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Quem odeia os semelhantes
pondo-os no fundo do poço,
chora, por nele entrar antes,
com a pedra no pescoço.
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Se o destino tem autor,
esse autor pode ser eu,
pra ser dele o construtor,
liberdade Deus me deu.
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Só Deus sabe o que o futuro
ao mundo tem reservado,
não seja ele um tanto escuro,
nem obscuro ou depravado.
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Só permanece calado
quem nada tem a contar,
para que falar se ao lado,
ninguém para pra escutar?
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Tem a pedra o dom do abate
e o poder da intemperança,
cora a face de escarlate
com o pincel da vingança.
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Tendo o rumo já traçado,
mais fácil é navegar,
mesmo o mar sendo agitado,
são, pode ao porto chegar.
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Todo o respeito rompido
numa relação delgada,
infla na alma do ofendido
uma amizade negada.
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Vento brando, nunca assusta,
da planta balança a flor.
Se forte, mesmo a robusta,
não resiste o seu furor.

Fonte:
Luiz Damo. A Trova Literária nas Páginas do Sul. Caxias do Sul/RS: Palotti, 2014.
Livro enviado pelo autor.

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