Sim, dizem que há um fantasma no Instituto de Pesca de Santos, lá na Ponta da Praia.
Um fantasma que, vez ou outra, arrasta correntes por entre os peixes taxidermizados* que enriquecem o Museu, lá pelas proximidades do esqueleto da grande baleia que, por sua vez, ocupa quase uma sala inteira dele. Um fantasma bonzinho, afável com as crianças e que protege o acervo do referido Museu.
Quem nos poderia dizer algo mais sobre este assunto seria Mestre Nelsinho Dreux, que partiu deixando saudades "taxidermizadas" em cada canto. Mercê dos seus conhecimentos e dedicação à taxidermia aplicada ao estudo e resguardo da fauna marítima. Mestre Nelsinho fez escola e suas peças ainda enfeitam os salões do Instituto de Pesca, como também o Mini-Museu Marinho, do IHG* de Santos, iniciado, no ano 2000, pela autora destas linhas.
Teriam parado por aqui os informes sobre este assunto se não fossem introduzidos outros três nomes capazes de jogar mais luz sobre ele: – Dr. Acácio Ribeiro Gomes Tomás, oceanógrafo, mestre e doutor em Ciências e Ecologia - Pesquisador Científico do Instituto de Pesca; Antônio Carlos Simões, jornalista, ex-diretor do Museu de Pesca 1979/1997, e Gizelda Palubinskas, ex-funcionária administrativa do referido Instituto.
Com o "palco", agora devidamente iluminado, tendo por foco o "Capitão Padilha," também chamado Fantasma (Protetor) do Instituto de Pesca de Santos, este personagem lendário vem à cena credenciado pelas vozes que deram base ao que aqui vai descrito, embora sujeito a outras versões, como geralmente acontece com qualquer lenda.
- Comecemos pelo testemunho de Dona Gizelda, a beirar os setenta, e que foi, por muitos anos, Secretária do Instituto de Pesca de Santos.
Ante a pergunta: - É verdade que há um fantasma no Instituto de Pesca? - deu-nos ela, por telefone, o testemunho de alguns sustos por ela mesma vivenciados.
Um deles: - " Certa noite, cerca das 19h, encerrado o expediente e sem que, além de mim, houvesse mais alguém no prédio", confessa Dona Gizelda ter ouvido, perfeitamente, na ante-sala onde ela estava, tensa e assustada: - “uma porta abrir-se e fechar-se logo em seguida, num dos aposentos próximos”. - O que, evidentemente, foi logo atribuído à presença do "Capitão fantasma".
- "De outra feita” - continua Dona Gizelda - "após uma "vernissage" (evento, àquele tempo, comum, lá no Instituto), quando o público já deixara o prédio, eu subi as escadas que me levariam ao andar superior para apagar as luzes no intuito de evitar desperdícios". Ao retomar pela mesma escada, um novo susto; – "senti que alguém descia os degraus... juntamente comigo” - e a comprovada simpatia de Dona Gizelda não omite o acontecido: – "Assustada, agarrei-me ao corrimão, dizendo, num alerta ao fantasma: - "Capitão, por favor!... Saiba que eu estou cuidando da sua casa!..." - como quem diz: - Não tenho medo... mas... "fique longe, por favor!!"
O clima fica mais intenso quando a simpática narradora conta que o senhor José, antigo funcionário do Instituto, jamais chegava ao andar de cima porque "na última vez em que lá estivera, ouvira o som de correntes sendo arrastadas pelo chão!"
E o derradeiro relato de Dona Giselda; - "Certo dia, findo o expediente, ao ser fechada a porta de saída do Instituto, ouvimos passos de alguém descendo as escadas, ruído que desaparecia quando a porta era reaberta... e voltava a ser ouvido, quando a mesma era novamente fechada”.
Uma vez ventilada a "presença" do Fantasma do Capitão Padilha no Instituto de Pesca de Santos, o que ganha certo aroma de realidade nas palavras de Dona Gizelda, vamos ligeiramente à história desse personagem que justifica a lenda, ouvindo o que dizem Dr. Acácio Ribeiro Gomes Tomás, Oceanógrafo, mestre doutor em Ciências, e o jornalista Antônio Carlos Simões, ambos profundamente ligados ao Instituto - o primeiro, como Pesquisador Científico, desde 1997 e o segundo, ex-diretor do Museu de Pesca de Santos, de 1987 a 1997.
Os depoimentos se entrelaçam:
- Tudo pode ter começado com a suposta "morte de um diretor da então Escola de Pesca, quando tinha fins de formação profissional, há quase 100 anos - o que não é comprovado".
A má conservação do prédio, acusada pelo ranger das tábuas do assoalho e pelo ruído das desgastadas dobradiças das portas e janelas, teria sido importante coadjuvante para o desenvolvimento da lenda através dos tempos, como, também, os antecedentes do atual Museu - antiga fortaleza que defendia o estuário, exposta ao ataque dos corsários, e que, "em tempos muito anteriores, teria sido um sítio de enterros dos indígenas, justificando a presença do sambaqui, que infelizmente não existe mais," tudo a favorecer para que ganhasse corpo a aura fantasmagórica que envolveu esse Museu santista, colaborando, talvez, para o seu tombamento e futuro restauro - o que eliminou de vez os ruídos suspeitos.
Mas... a tal ponto expandiu-se esta lenda, no passado, que, segundo relato de antigos alunos internos, eles mesmos "sequer ousavam abrir a porta, à noite, para irem ao banheiro, por conta do medo do "Capitão Padilha, o famoso fantasma" - que por lá perambulava, embora reconhecessem não ter ele feito, jamais, qualquer mal a alguém!
E quem seria, afinal, o Capitão Padilha? - Tão somente: – "Uma figura imaginária, que surgiu tendo por base a figura real do Capitão-tenente Garcez Palha, referendado pela Marinha Brasileira", e, também, ligado ao prédio em questão, cuja construção ele supervisionou, quando a Escola de Aprendizes de Marinheiros do Estado de São Paulo, que, ao ser extinta, veio a ser transformada na "Escola de Pesca", geradora do atual Museu - como explicam as vozes que seguem a guiar este relato.
O nome de Garcez Palha, ao virar lenda, acabou por ser carinhosamente trocado pelos funcionários do Instituto de Pesca, que lhe deram o apelido de Capitão Padilha.
Em fase mais recente, 2001, foi inaugurado, no Museu de Pesca, o chamado "Quarto do Capitão Padilha". Projeto que integra a Ala Lúdica Petrobrás, e é de autoria de um grupo de alunos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Católica de Santos. Este "Quarto do Capitão" dá acesso a relatos fantasiosos de funcionários e demais curiosidades relativas ao "fantasma guardião" - sendo um atrativo a mais para os visitantes.
No tal quarto, as crianças são recebidas com carinho e têm acesso a um cenário preparado especialmente para elas, onde ouvem relatos alusivos, e descobrem "móveis e também objetos pertencentes ao "Capitão", tais como cartas de navegação, diário de bordo, antigos utensílios de uso pessoal, etc." assim como histórias de grandes navegadores e das aventuras marítimas de Marco Polo, Cristóvão Colombo, Fernando de Magalhães, Amyr Klink, etc."
Um gato, ex-morador daquele prédio, lembra os trabalhos de taxidermia de Nelsinho Dreux. É ele o atual guardião do quarto do "Capitão Padilha" - o já famoso Fantasma do Instituto de Pesca de Santos.
Fala-se que o Teatro Coliseu santista, ao lado esquerdo da Catedral, tem também o seu fantasma - ou seja, um homem, que, quando aparece, o que é bastante raro, perambula por entre os bastidores.
Um fantasma que, vez ou outra, arrasta correntes por entre os peixes taxidermizados* que enriquecem o Museu, lá pelas proximidades do esqueleto da grande baleia que, por sua vez, ocupa quase uma sala inteira dele. Um fantasma bonzinho, afável com as crianças e que protege o acervo do referido Museu.
Quem nos poderia dizer algo mais sobre este assunto seria Mestre Nelsinho Dreux, que partiu deixando saudades "taxidermizadas" em cada canto. Mercê dos seus conhecimentos e dedicação à taxidermia aplicada ao estudo e resguardo da fauna marítima. Mestre Nelsinho fez escola e suas peças ainda enfeitam os salões do Instituto de Pesca, como também o Mini-Museu Marinho, do IHG* de Santos, iniciado, no ano 2000, pela autora destas linhas.
Teriam parado por aqui os informes sobre este assunto se não fossem introduzidos outros três nomes capazes de jogar mais luz sobre ele: – Dr. Acácio Ribeiro Gomes Tomás, oceanógrafo, mestre e doutor em Ciências e Ecologia - Pesquisador Científico do Instituto de Pesca; Antônio Carlos Simões, jornalista, ex-diretor do Museu de Pesca 1979/1997, e Gizelda Palubinskas, ex-funcionária administrativa do referido Instituto.
Com o "palco", agora devidamente iluminado, tendo por foco o "Capitão Padilha," também chamado Fantasma (Protetor) do Instituto de Pesca de Santos, este personagem lendário vem à cena credenciado pelas vozes que deram base ao que aqui vai descrito, embora sujeito a outras versões, como geralmente acontece com qualquer lenda.
- Comecemos pelo testemunho de Dona Gizelda, a beirar os setenta, e que foi, por muitos anos, Secretária do Instituto de Pesca de Santos.
Ante a pergunta: - É verdade que há um fantasma no Instituto de Pesca? - deu-nos ela, por telefone, o testemunho de alguns sustos por ela mesma vivenciados.
Um deles: - " Certa noite, cerca das 19h, encerrado o expediente e sem que, além de mim, houvesse mais alguém no prédio", confessa Dona Gizelda ter ouvido, perfeitamente, na ante-sala onde ela estava, tensa e assustada: - “uma porta abrir-se e fechar-se logo em seguida, num dos aposentos próximos”. - O que, evidentemente, foi logo atribuído à presença do "Capitão fantasma".
- "De outra feita” - continua Dona Gizelda - "após uma "vernissage" (evento, àquele tempo, comum, lá no Instituto), quando o público já deixara o prédio, eu subi as escadas que me levariam ao andar superior para apagar as luzes no intuito de evitar desperdícios". Ao retomar pela mesma escada, um novo susto; – "senti que alguém descia os degraus... juntamente comigo” - e a comprovada simpatia de Dona Gizelda não omite o acontecido: – "Assustada, agarrei-me ao corrimão, dizendo, num alerta ao fantasma: - "Capitão, por favor!... Saiba que eu estou cuidando da sua casa!..." - como quem diz: - Não tenho medo... mas... "fique longe, por favor!!"
O clima fica mais intenso quando a simpática narradora conta que o senhor José, antigo funcionário do Instituto, jamais chegava ao andar de cima porque "na última vez em que lá estivera, ouvira o som de correntes sendo arrastadas pelo chão!"
E o derradeiro relato de Dona Giselda; - "Certo dia, findo o expediente, ao ser fechada a porta de saída do Instituto, ouvimos passos de alguém descendo as escadas, ruído que desaparecia quando a porta era reaberta... e voltava a ser ouvido, quando a mesma era novamente fechada”.
Uma vez ventilada a "presença" do Fantasma do Capitão Padilha no Instituto de Pesca de Santos, o que ganha certo aroma de realidade nas palavras de Dona Gizelda, vamos ligeiramente à história desse personagem que justifica a lenda, ouvindo o que dizem Dr. Acácio Ribeiro Gomes Tomás, Oceanógrafo, mestre doutor em Ciências, e o jornalista Antônio Carlos Simões, ambos profundamente ligados ao Instituto - o primeiro, como Pesquisador Científico, desde 1997 e o segundo, ex-diretor do Museu de Pesca de Santos, de 1987 a 1997.
Os depoimentos se entrelaçam:
- Tudo pode ter começado com a suposta "morte de um diretor da então Escola de Pesca, quando tinha fins de formação profissional, há quase 100 anos - o que não é comprovado".
A má conservação do prédio, acusada pelo ranger das tábuas do assoalho e pelo ruído das desgastadas dobradiças das portas e janelas, teria sido importante coadjuvante para o desenvolvimento da lenda através dos tempos, como, também, os antecedentes do atual Museu - antiga fortaleza que defendia o estuário, exposta ao ataque dos corsários, e que, "em tempos muito anteriores, teria sido um sítio de enterros dos indígenas, justificando a presença do sambaqui, que infelizmente não existe mais," tudo a favorecer para que ganhasse corpo a aura fantasmagórica que envolveu esse Museu santista, colaborando, talvez, para o seu tombamento e futuro restauro - o que eliminou de vez os ruídos suspeitos.
Mas... a tal ponto expandiu-se esta lenda, no passado, que, segundo relato de antigos alunos internos, eles mesmos "sequer ousavam abrir a porta, à noite, para irem ao banheiro, por conta do medo do "Capitão Padilha, o famoso fantasma" - que por lá perambulava, embora reconhecessem não ter ele feito, jamais, qualquer mal a alguém!
E quem seria, afinal, o Capitão Padilha? - Tão somente: – "Uma figura imaginária, que surgiu tendo por base a figura real do Capitão-tenente Garcez Palha, referendado pela Marinha Brasileira", e, também, ligado ao prédio em questão, cuja construção ele supervisionou, quando a Escola de Aprendizes de Marinheiros do Estado de São Paulo, que, ao ser extinta, veio a ser transformada na "Escola de Pesca", geradora do atual Museu - como explicam as vozes que seguem a guiar este relato.
O nome de Garcez Palha, ao virar lenda, acabou por ser carinhosamente trocado pelos funcionários do Instituto de Pesca, que lhe deram o apelido de Capitão Padilha.
Em fase mais recente, 2001, foi inaugurado, no Museu de Pesca, o chamado "Quarto do Capitão Padilha". Projeto que integra a Ala Lúdica Petrobrás, e é de autoria de um grupo de alunos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Católica de Santos. Este "Quarto do Capitão" dá acesso a relatos fantasiosos de funcionários e demais curiosidades relativas ao "fantasma guardião" - sendo um atrativo a mais para os visitantes.
No tal quarto, as crianças são recebidas com carinho e têm acesso a um cenário preparado especialmente para elas, onde ouvem relatos alusivos, e descobrem "móveis e também objetos pertencentes ao "Capitão", tais como cartas de navegação, diário de bordo, antigos utensílios de uso pessoal, etc." assim como histórias de grandes navegadores e das aventuras marítimas de Marco Polo, Cristóvão Colombo, Fernando de Magalhães, Amyr Klink, etc."
Um gato, ex-morador daquele prédio, lembra os trabalhos de taxidermia de Nelsinho Dreux. É ele o atual guardião do quarto do "Capitão Padilha" - o já famoso Fantasma do Instituto de Pesca de Santos.
Fala-se que o Teatro Coliseu santista, ao lado esquerdo da Catedral, tem também o seu fantasma - ou seja, um homem, que, quando aparece, o que é bastante raro, perambula por entre os bastidores.
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Notas:
IHG = Instituto Histórico e Geográfico
Taxidermia = antigo processo de encher de palha animal morto a fim de conservar-lhe as características, empalhar.
Fonte:
Carolina Ramos. Canta… Sabiá! (folclore). Santos/SP: publicado pela Editora Mônica Petroni Mathias, 2021.
Livro enviado pela autora.
Carolina Ramos. Canta… Sabiá! (folclore). Santos/SP: publicado pela Editora Mônica Petroni Mathias, 2021.
Livro enviado pela autora.
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