terça-feira, 15 de março de 2022

Milton Sebastião Souza (Chuva na vidraça)

Os pingos de chuva que brincaram de escorregar pela minha vidraça durante a semana inteira fizeram o meu pensamento se elevar bem acima da montanha de trabalhos que soterrava os meus dias para me fazer pensar em ti, pensar em ti, pensar em ti...

Isso acontece sempre quando está chovendo. Jamais esqueço que foi exatamente num dia como esse que o destino resolveu colocar um “algo mais” no meio daquela nossa amizade tão bonita.

Naquele dia chuvoso (que ficou guardado na minha lembrança) eu descobri, num segundo, que nos teus olhos brilhava precisamente aquela cor que eu mais gostava. Descobri mais ainda: que as tuas mãos, que tantas vezes me ampararam nos momentos difíceis também sabiam fazer os carinhos que eu estava precisando com tanta urgência. E o resto foi acontecendo naturalmente...

A nossa amizade se transformou no sonho mais lindo que alguém poderia sonhar. E nós dois aproveitamos aqueles dias chuvosos para fugir do mundo e descobrir, um no outro, tantas belezas e tantas afinidades. O tempo parou: esquecemos compromissos, deixamos os telefones ficarem roucos de tanto gritar e sumimos completamente do mapa das nossas ações costumeiras. Então saboreamos aqueles momentos sem pressa, sem perguntar até onde aquela magia nos levaria e quanto durariam aqueles momentos indescritíveis de felicidade e prazer...

Um ditado antigo já havia nos avisado que “tudo o que é bom dura pouco”. A realidade nos fez acordar daquele sonho. Aos poucos nós voltamos para a nossa rotina repleta de falta de tempo para os projetos pessoais. E, por causa das outras paixões menores que durante todos os tempos sempre dominaram os nossos sentimentos, terminamos adiando e readiando a continuidade daquela paixão fulminante. O sonho não terminou. Mas ficou perdido no meio da neblina de uma imensa saudade. E hoje só volta aos nossos corações quando uma chuvinha começa a tamborilar ritmada nas vidraças das nossas janelas...

Hoje já nem sei mais qual o sentimento que sinto por ti. Só sei que ele não deve ser chamado de “amizade”. Nas minhas horas de solidão, eu sinto vontade de esconder todos os meus medos nos caminhos iluminados do teu olhar. E sinto mais ainda a falta do contato macio das tuas mãos nos atalhos do meu corpo tão carente de carícias. Meus lábios, que anseiam pelos teus beijos, precisam provar as lágrimas amargas que descem licenciosas dos meus olhos, vidraças molhadas onde não tamborilam os pingos da chuva. O tempo vai passando e, com suas armadilhas, nos afastando cada vez mais. Quando os nossos olhos conseguem se encontrar, por alguns rápidos instantes, emitem aflitas mensagens que somente as nossas almas conseguem decodificar.

Nestas mensagens, nós falamos de dias chuvosos, de pingos na vidraça, de carícias plenas e desta saudade que sufoca as nossas almas...

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