domingo, 2 de janeiro de 2011

Afrânio Peixoto (1876 – 1947)




Júlio Afrânio Peixoto, médico legista, político, professor, crítico, ensaísta, romancista, historiador literário, nasceu em Lençóis, nas Lavras Diamantinas, BA, em 17 de dezembro de 1876, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 12 de janeiro de 1947.

Foram seus pais o capitão Francisco Afrânio Peixoto e Virgínia de Morais Peixoto. O pai, comerciante e homem de boa cultura, transmitiu ao filho os conhecimentos que auferiu ao longo de sua vida de autodidata.

Criado no interior da Bahia, cujos cenários constituem a situação de muitos dos seus romances, sua formação intelectual se fez em Salvador, onde se diplomou em Medicina, em 1897, como aluno laureado.

Sua tese inaugural, Epilepsia e crime, despertou grande interesse nos meios científicos do país e do exterior.

Em 1902, a chamado de Juliano Moreira, mudou-se para o Rio, onde foi inspetor de Saúde Pública (1902) e Diretor do Hospital Nacional de Alienados (1904).

Após concurso, foi nomeado professor de Medicina Legal da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro (1907) e assumiu os cargos de


  • professor extraordinário da Faculdade de Medicina (1911);
  • diretor da Escola Normal do Rio de Janeiro (1915);
  • diretor da Instrução Pública do Distrito Federal (1916);
  • deputado federal pela Bahia (1924-1930);
  • professor de História da Educação do Instituto de Educação do Rio de Janeiro (1932).
  • Reitor da Universidade do Distrito Federal, em 1935.
Após 40 anos de relevantes serviços à formação das novas gerações de seu país, aposentou-se.
A sua estréia na literatura se deu dentro da atmosfera do simbolismo, com a publicação, em 1900, do drama Rosa mística, curioso e original drama em cinco atos, luxuosamente impresso em Leipzig, com uma cor para cada ato.

O próprio autor renegou essa obra, anotando, no exemplar existente na Biblioteca da Academia, a observação: “incorrigível. Só o fogo.”

Entre 1904 e 1906 viajou por vários países da Europa, com o propósito de ali aperfeiçoar seus conhecimentos no campo de sua especialidade, aliando também a curiosidade de arte e turismo ao interesse do estudo. Nessa primeira viagem à Europa travou conhecimento, a bordo, com a família de Alberto de Faria, futuro acadêmico, da qual viria a fazer parte, sete anos depois, ao casar-se com Francisca de Faria Peixoto. Quando da morte de Euclides da Cunha (1909), foi Afrânio Peixoto quem fez o laudo de autópsia.

Ao ir ao Rio, seu pensamento era de apenas ser médico, tanto que deixara de incursionar pela literatura após a publicação de Rosa mística. Sua obra médico-legal-científica avolumava-se.

O romance foi uma implicação a que o autor foi levado em decorrência de sua eleição para a Academia Brasileira de Letras, para a qual fora eleito à revelia, quando se achava no Egito, em sua segunda viagem ao exterior.

Começou a escrever o romance “A Esfinge”, o que fez em três meses antes da posse em 14 de agosto de 1911. O Egito inspirou-lhe o título e a trama novelesca, o eterno conflito entre o homem e a mulher que se querem, transposto para o ambiente requintado da sociedade carioca, com o então tradicional veraneio em Petrópolis, as conversas do mundanismo, versando sobre política, negócios da Bolsa, assuntos literários e artísticos, viagens ao exterior. Em certo momento, no capítulo “O Barro Branco”, conduz o personagem principal, Paulo, a uma cidade do interior, em visita a familiares ali residentes. Demonstra-nos Afrânio, nessa páginas, os aspectos da força telúrica com que impregnou a sua obra novelesca.

O romance, publicado em 1911, obteve um sucesso incomum e colocou seu autor em posto de destaque na galeria dos ficcionistas brasileiros. Na trilogia de romances regionalistas Maria Bonita (1914) Fruta do mato (1920) e Bugrinha (1922). Entre os romances urbanos escreveu “As razões do coração” (1925), “Uma mulher como as outras” (1928) e “Sinhazinha”(1929).

Dotado de personalidade fascinante, irradiante, animadora, além de ser um grande causeur e um primoroso conferencista, conquistava pessoas e auditórios pela palavra inteligente e encantadora. Como sucesso de crítica e prestígio popular, poucos escritores se igualaram na época a Afrânio Peixoto.

Na Academia, teve também intensa atividade. Pertenceu à


  • Comissão de Redação da Revista (1911-1920);
  • Comissão de Bibliografia (1918) e
  • Comissão de Lexicografia (1920 e 1922).
Presidente da Casa de Machado de Assis em 1923, promoveu, junto ao embaixador da França, Alexandre Conty, a doação pelo governo francês do palácio Petit Trianon, construído para a Exposição da França no Centenário da Independência do Brasil.

Em 1923 criou a Biblioteca de Cultura Nacional dividida em : História, Literatura, Dispersos e Bio-bibliografia, iniciando esta série com a biografia de Castro Alves. Em sua homenagem a coleção passou a ter o nome de Coleção Afrânio Peixoto.

Como ensaísta escreveu importantes estudos sobre Camões, Castro Alves e Euclides da Cunha.

Em 1941 visitou a terra natal, Bahia, depois de 30 anos de ausência e publicou 2 livros: “Breviário da Bahia” (1945) e “Livro de Horas” (1947).

Afrânio Peixoto procurou resumir sua biografia o seu intenso labor intelectual exercido na cátedra e nas centenas de obras que publicou em dois versos: “Estudou e escreveu, nada mais lhe aconteceu.”

Era membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, da Academia das Ciências de Lisboa; da Academia Nacional de Medicina Legal, do Instituto de Medicina de Madri e de outras instituições.

Na Academia Brasileira de Letras era ocupante da Cadeira 7, eleito em 7 de maio de 1910, na sucessão de Euclides da Cunha.

Principais obras:


  • Rosa mística, drama (1900);
  • Lufada sinistra, novela (1900);
  • A esfinge, romance (1911);
  • Maria Bonita, romance (1914);
  • Minha terra e minha gente, história (1915);
  • Poeira da estrada, crítica (1918);
  • Trovas brasileiras (1919);
  • Parábolas (1920);
  • José Bonifácio, o velho e o moço, biografia (1920);
  • Fruta do mato, romance (1920);
  • Castro Alves, o poeta e o poema (1922);
  • Bugrinha, romance (1922);
  • Ensinar e ensinar (1923);
  • Dicionário dos Lusíadas, filologia (1924);
  • Camões e o Brasil, crítica (1926);
  • Dinamene (1925);
  • Arte poética, ensaio (1925);
  • As razões do coração, romance (1925);
  • Uma mulher como as outras, romance (1928);
  • Sinhazinha (1929);
  • Miçangas (1931);
  • Viagem Sentimental (1931);
  • História da literatura brasileira (1931);
  • Castro Alves - ensaio biobibliográfico (1931);
  • Panorama da literatura brasileira (1940);
  • Pepitas, ensaio (1942);
  • Amor sagrado e amor profano (1942);
  • Despedida (1942);
  • Obras completas (1942);
  • Indes (1944);É (1944);
  • Breviário da Bahia (1945);
  • Livro de horas (1947);
  • Obras literárias, ed. Jackson, 25 vols. (1944);
  • Romances completos (1962);
  • Trovas brasileiras (s.d.);
  • Autos (s.d.).

    Fonte:
    Academia Brasileira de Letras

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