sábado, 1 de janeiro de 2011

Olivaldo Júnior (Fim de Linha)


Pois é, o ano velho está no fim, é o fim da linha para ele. Acabam-se as aulas e as férias invadem as casas, causando frisson nas crianças e em todos que estudaram ou trabalharam durante o ano. O ano velho está de molho, o molho que é feito de amizade.

Amigos que telefonavam todo dia já não ligam quase nunca; amigos que não ligavam quase nunca já não telefonam mais. Pois é, a vida é assim mesmo: ligações ou longos períodos ocupados ou fora da área de cobertura. Cobrindo o ano velho, cubro a mim mesmo, que eu mesmo ando velho, bem velho, querendo nascer. Nasceram amigos que eu pensei que seriam eternos, mas fenecem no esquecimento desta pessoa; tenho amigos que não telefonam mais, ainda que ligassem quase todo dia. Dia a dia, eu noto bem: tudo é ciclo, e o círculo dos meus amigos é o quadrado de uma folha de papel em que pousam ilusões. Ilusão é pôr-se à mercê de ninguém. Ninguém vive sem ninguém.

Iludo-me. Mas o ano é novo. Fim de linha para o velho que mora em mim. Mas o que faço para o despejo de quem me ajuda a ter assunto para meus versos, combustível para os lampejos de um verso à-toa, que me atordoa? Contando com amores que nunca foram amáveis, amei quem nem sabe que o meu amor contava com o dele, o amor do meu amor. O amor é velho; o ano, não. E eu estou cansado de ser amigo de ninguém e de ninguém estar comigo quando entra o ano novo e todos fazem tim-tim.

Fontes:
O Autor
Imagem = http://www.gostodeler.com.br/

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