sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.130)


Uma Trova Nacional

A mais dorida verdade,
e a que me cala mais fundo,
é a notória brevidade
das ilusões deste mundo.
(PEREIRA DE ALBUQUERQUE/CE)

Uma Trova Potiguar

Ontem quando a lua veio,
tão cheia, por trás do monte,
parecia um lindo seio
no decote do horizonte.
(JOSUÉ TABIRA/RN)

Uma Trova Premiada

2008 > Bandeirantes/PR
Tema > AUDÁCIA > Menção Especial

Luto por meus ideais,
com audácia entre os abalos,
que não abalam jamais
a esperança de alcançá-los!
(WANDA DE PAULA MOURTHÉ/MG)

Simplesmente Poesia

– Dalinha Catunda/CE –
EU E ELE.

Vem que o dia é nosso,
aquece meu corpo que gosto.
Faz-me inteirinha suar.

Deixa-me de rosto corado,
brinquemos de namorados,
antes que chegue o luar.

Vem me fazer mais morena,
garanto que vale a pena,
em minha pele tocar.

A nossa química é perfeita.
Desce seus raios, aproveita!
Sou epiderme a lhe provocar.

Uma Trova de Ademar

Na transposição mais nobre,
podemos, sem qualquer risco,
matar a sede do pobre
com as águas do São Francisco!...
(ADEMAR MACEDO/RN)

...E Suas Trovas Ficaram

Se na estrada em que transponho,
só tem pesares daninhos,
eu peço carona ao sonho
e nem piso nos espinhos.
(LILA RICCIARDI FONTES/SP)

Estrofe do Dia

– Carlos Drummond de Andrade (RJ) -
A CASA DO TEMPO PERDIDO

Bati no portão do tempo perdido, ninguém atendeu.
Bati segunda vez e mais outra e mais outra.
Resposta nenhuma.
A casa do tempo perdido está coberta de hera
pela metade; a outra metade são cinzas.
Casa onde não mora ninguém, e eu batendo e chamando
pela dor de chamar e não ser escutado.
Simplesmente bater. O eco devolve
minha ânsia de entreabrir esses paços gelados.
A noite e o dia se confundem no esperar,
no bater e bater.
O tempo perdido certamente não existe.
É o casarão vazio e condenado.

Soneto do Dia

Raymundo de Salles Brasil/BA –
AO RELER MEU SONETO

Um verso eu quis fazer melhor elaborado,
um clássico soneto igual aos de Bilac,
soneto à moda antiga, bem metrificado,
como o fizera Arthur, que foi do verso um craque.

Fiquei ante o papel, horas a fio, parado,
buscando um verso puro, um verso sem sotaque,
corri atrás da rima até ficar cansado,
coloquei a cesura em lugar de destaque.

Achei que o meu soneto já estivesse pronto,
mas quando o fui reler, verso por verso, vi
que em cada um faltava ainda um contraponto

que lhes pudesse dar riqueza à melodia;
e as cordas dedilhei de novo, e descobri:
faltava-lhe a unção – e dá-la eu não sabia.

Fonte:
Ademar Macedo

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