sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Pedro Du Bois (Poesias Escolhidas)


INTERESSAR

Sou do desinteresse o ouvido
parco das novidades, o mundo
na extensão da casca do ovo

não procuro o novo
e a novidade flutua
ante meus olhos

(não há importância
na descoberta: o novo
derruba o que resta).

RECOMEÇO

Sou remanescente, lado avesso
ao desconhecimento. O oposto ao corpo,
luz. A bravura da ovelha, o cão guardando
o rebanho. Recomeço.

Habito terras desprezadas e me faço estéril
pensamento. Guardo a palavra.

Sou vento impreciso e ágil
sobre a cobertura. Espalho a poeira
e a misturo entre lajes.

HÓSPEDES

Hóspede na inutilidade perco
a paciência em obviedades:
ao responder anseios interiores
rasgo paredes com palavras
alarmadas ao milagre e refaço
a noite divulgada ao acaso: junto
o teor do expediente e o declino
em versos: no inverso da jornada
esqueço a escala crescente
das necessidades:

hospedo a maldade
ultrapassada.

Sobram cicatrizes em calosidades:
esquecer ainda é o maior mistério

CRESCER

A antevisão do inferno
conforma a figura ensinada
enquanto criança: ter sido
criança antes
da história
adulterada

o menino ativa idéias
descomunais ao corpo
ingente, purgado
em vitaminas inexistentes

o inferno desdobrado
em passos: passado
recoberto em eras.
Floresta desbastada.

DESPREZO

Desprezado ao sustento
despedaço o corpo à estrada: ir e vir
em bifurcado
corpo

estraçalho a vontade
ao recontar pedaços
inaproveitáveis

repouso antes da viagem
na longitude programada

imerso em pensamentos
penso a passagem
do pássaro escalado
ao morro atrás da casa

ao sustento identifico
a fome: restam fatias
intercaladas.

Fonte:
O Autor

Um comentário:

Pedro Du Bois disse...

Caro Feldman, mais uma vez, grato pela gentileza do destaque dado aos meus poemas. Boa mudança. Abraços, Pedro.