domingo, 13 de fevereiro de 2011

Folclore, Superstição, Lendas e Histórias (Aves do Brasil: Pássaro Mágico)


Um tuxaua navegava numa canoa em direção contrária à corrente do rio. De repente, percebeu, com espanto, o ruído cada vez mais forte da cascata que tinha ficado muito para trás. Parecia que, em lugar de avançar, ele recuava para o abismo. Remou com mais força. Mas, quanto mais remava, mais intenso se tornava o ruído da cachoeira. Apavorado com o que acontecia, implorou a um pássaro que voava sobre a sua cabeça:

- Pássaro empresta-me as tuas asas, para que eu possa chegar à minha tribo!

Assim que o índio falou, o pássaro mergulhou nas águas do rio e desapareceu. Imediatamente, o ruído da cascata foi diminuindo, até desaparecer de todo. O tuxaua pode então, fazer sua canoa deslizar rapidamente sobre o rio.

Chegando à taba, foi recebido com grande alegria por seus companheiros. Ele saíra de casa havia muitos dias e todos já o consideravam perdido. Em regozijo pelo seu regresso, houve à noite, uma grande festa na tribo.

Durante as danças, chamou a atencão do tuxaua a presença na taba, de um guerreiro desconhecido, que cortejava a sua noiva. Era um índio alto, belo e forte, tendo ao pescoço muitos colares feitos com dentes de animais abatidos e de inimigos mortos na guerra, que lembravam as do pássaro que havia salvo o tuxaua.

Ficou este com inveja da beleza do guerreiro desconhecido. Além disso, encheu-se de ciúmes diante das atenções que o jovem dispensava à sua noiva. Sem poder dominar sua revolta, aproximou-se do casal e, numa atitude provocadora, arrancou a noiva da companhia do guerreiro. Este não repeliu o insulto. Então, todos os índios da tribo o expulsaram da festa por ser covarde.

O guerreiro de asas de pássaros afastou-se em silêncio, mas de cabeça erguida. Ao chegar à beira do rio, atirou-se na água. Julgando que ele quisesse fugir a nado, os índios embarcaram em suas canoas para persegui-lo.

Nesse momento, o estrondo de uma cascata ecoou no espaço. E um pássaro surgiu no ar, gritando: Tincoã! Tincoã! Então, a noite desceu sobre a terra, os índios foram dominados por um pavor que nunca tinham sentido, e todos foram envolvidos e arrastados pelas águas furiosas do rio.

Fonte:
SANTOS, Teobaldo Miranda. Lendas e mitos do Brasil. 9ª Ed., São Paulo, Ed. Nacional, 1985

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