quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

João Freire Filho (Caderno de Trovas)


A lua, que nos clareia,
é diferente de quem,
recebendo luz alheia,
não ilumina ninguém!

Ante a dor... não esmoreço,
sabendo, em meu caminhar,
que a Vida não cobra preço
que não se possa pagar

A Terra vive conflitos,
sangrando, de guerra em guerra,
e é com voz branda... e, não, gritos...
que se há de ter Paz... na Terra!

A saudade é dependência...
É meu vício, em tal medida,
que você se fez a ausência
mais presente em minha vida!

As revoltas não têm fim
e explodem cada vez mais,
que a fome acende o estopim
das convulsões sociais!

A tormenta, que atordoa,
não distingue, em mar bravio,
a humildade da canoa...
da soberba do navio!...

A Verdade anda tão rara,
que a Mentira, sorridente,
já nem sequer se mascara
para enganar tanta gente!

A vida me presenteia
com tamanhas alegrias,
que a tristeza é um grão de areia
na ampulheta dos meus dias!

Bendita a fonte escondida...
que escorre e, por onde passa,
trazendo a graça da vida,
dá tanta vida de graça!

Cai na rua... Perde o tino,
no alcoolismo em que se esvai...
E, aos passantes... um menino
diz, inocente: - "É meu pai"...

Cantando terno estribilho
e esquecendo que era escrava,
Mãe Preta aleitava o filho
de quem os seus açoitava!...

Com sabor de penitência...
de brinde contra a vontade,
vou bebendo a tua ausência...
em meus porres de saudade!

Da ternura ao desvario..
do desvario à ternura,
nosso amor vive no fio
da mais sublime loucura...

Distante, a lua prateada,
entre nuvens de inconstância,
me lembra a mulher amada...
mais amada... se à distância!

Distante do olhar das ruas,
num sonho que me enternece,
em nosso céu brilham luas
que só nosso amor conhece!...

Dos meus tempos mais risonhos
descubro, agora, os segredos:
- cabia um mundo de sonhos
no meu mundo de brinquedos!

É o desvario do mando
de alguns Senhores da Terra...
que implanta, de quando em quando,
os desvarios da guerra!

Eu compreendo os desvios
a que leva uma paixão...
As vezes, são desvarios
que dão à vida... razão!...

Fim do amor... Desiludidos,
sabemos juntos, mas sós,
que há silêncios inibidos...
tentando falar por nós!

Hoje, em meu leito, sem ela,
enquanto resisto ao sono,
a Saudade é sentinela...
dando plantão... no abandono!

Imperfeito, eu rogo, aflito,
por nosso amor, que é perfeito:
- Não faças de mim um mito...
que mitos não têm defeito!

Liberdade -- sentinela
da Paz, em qualquer lugar!
E quem não lutar por ela...
não tem mais por que lutar!

Lutando por ideais,
mesmo à beira da utopia,
tenho enfrentado os "jamais"
com meus "sempres" de ousadia

Meu coração se acautela
e, imerso em desilusões,
faz da razão sentinela...
contra novas invasões!

Meus ideais mais risonhos
correm livres, sempre em frente,
numa corrente de sonhos,
que rompe qualquer corrente!

Na vida, que te conduz
às mais diversas pelejas,
se não puderes ser luz,
que, ao menos, sombra não sejas!

Nosso amor, desde o começo,
tem tal alcance e medida,
que, quanto mais envelheço,
mais o sinto... além da vida!

O meu amor te ocultei!
Seguimos rumos diversos...
Passou-se o tempo, e, hoje, eu sei:
- permaneceste em meus versos!

Poeta é aquele que abraça
a noite, sentindo-a sua,
e bebe estrelas na taça
inspiradora... da lua!

Quem ama... libera o ardor
dos impulsos naturais,
que, em desvarios de amor,
loucura alguma é demais !

Quem tem a luz do saber,
muito mais que outro qualquer,
tem de cumprir o dever
de ser luz... onde estiver!

Saudoso, namoro a Lua
e sinto, por seu feitiço,
que o nosso amor continua,
embora nem saibas disso!

Sonhador, poeta... e amante
de quanto a vida me dá,
que importa a lua distante...
se os meus sonhos chegam lá ?!...

Tenho um segredo profundo
- e, é de amor... – e, tarde ou cedo,
eu gostaria que o mundo
soubesse desse segredo!

Teu ciúme, cortando os laços
do nosso amor, me magoa...
mas meu amor abre os braços
e, por amor, te perdoa!

Toda noite ela regressa
em meus sonhos erradios...
Não há distância que impeça
de eu tê-la... em meus desvarios !

Vem do sol a luz de prata
que parte da lua encerra...
E a lua, modesta e grata,
deita pratas sobre a terra!

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