CONTRA-SENSO
Quem dera, oh... Deus, o ser humano fosse
mais fraternal e mais cristão, de sorte
que não herdasse o instinto de Mavorte,
contrário à vida, que é tão bela e doce!
Quanta alma pura fez de Ti o suporte,
e ao mal que nos judia contrapôs-se!
Quanta alma vil, de Ti distante, pôs-se
a criar engenhos de tortura e morte!
Estranha grei de gênios e estafermos,
num conúbio de crentes com pagãos,
eis o que é o homem nos exatos termos!
Sujeito a instintos nobres ou malsãos,
concebe a Ciência pra salvar enfermos
e inventa a Guerra pra matar os sãos!
MIGALHAS
Que mais desejas, afinal, que eu faça
pra ter por meu o que de ti não tenho,
se já cansado estou com tanto empenho
de haurir de ti a mais suprema graça?
Há quanto tempo mendigando eu venho
um pouco mais que esta ventura escassa!
Do amor apenas pingos pões-me à taça
que eu sorvo ao jugo de pesado lenho!
Somente a um outro, nas liriais toalhas
da mesa de Eros serves tua paixão,
mesa em que, pródiga, teus bens espalhas!
E ali enjeitado, a farejar o chão,
o meu amor vive a lamber migalhas
que tu lhe atiras qual se fora a um cão!
Fonte:
Pedro Ornellas
Quem dera, oh... Deus, o ser humano fosse
mais fraternal e mais cristão, de sorte
que não herdasse o instinto de Mavorte,
contrário à vida, que é tão bela e doce!
Quanta alma pura fez de Ti o suporte,
e ao mal que nos judia contrapôs-se!
Quanta alma vil, de Ti distante, pôs-se
a criar engenhos de tortura e morte!
Estranha grei de gênios e estafermos,
num conúbio de crentes com pagãos,
eis o que é o homem nos exatos termos!
Sujeito a instintos nobres ou malsãos,
concebe a Ciência pra salvar enfermos
e inventa a Guerra pra matar os sãos!
MIGALHAS
Que mais desejas, afinal, que eu faça
pra ter por meu o que de ti não tenho,
se já cansado estou com tanto empenho
de haurir de ti a mais suprema graça?
Há quanto tempo mendigando eu venho
um pouco mais que esta ventura escassa!
Do amor apenas pingos pões-me à taça
que eu sorvo ao jugo de pesado lenho!
Somente a um outro, nas liriais toalhas
da mesa de Eros serves tua paixão,
mesa em que, pródiga, teus bens espalhas!
E ali enjeitado, a farejar o chão,
o meu amor vive a lamber migalhas
que tu lhe atiras qual se fora a um cão!
Fonte:
Pedro Ornellas
Nenhum comentário:
Postar um comentário