Tocou a campainha da garagem do hospício e o guarda foi atender, abriu uma pequena uma janela que mostrava apenas parte do seu rosto no meio do grande portão de ferro, um senhor de meia-idade aparentando muita tristeza perguntou:
_ É aqui que é o hospício?
_ É sim. - Respondeu o guarda.
_ Eu vim me internar.
_ Quem mandou o senhor?
_ Ninguém, eu vim por minha conta, eu “tô” maluco.
_ Mas hoje é domingo, e só está o médico de plantão, ele só atende os pacientes que já estão internados, o senhor tem que voltar amanhã as dez da manhã e falar com o doutor Renato.
_ Mas caso de emergência, esse médico que está aí, não atende?
_ Atender ele atende, mas o seu caso não é de emergência.
_ Como não?
_ Caso de emergência é quando chega em camisa de força.
_ E onde eu consigo essa tal camisa de força?
_ Eu não sei não, é o pessoal da ambulância que tem.
_ Será que eu não posso dormir aqui para amanhã eu falar com o doutor? Eu sei que ele vai me internar mesmo.
_ Não pode não, o senhor tem que voltar amanhã. Mas eu trabalho aqui há duas semanas e já tenho alguma experiência, posso lhe adiantar uma coisa.
_ O quê? _ Perguntou o candidato a paciente.
_ O senhor não está maluco, não.
_ Como é que você sabe?
_ Eu sei por que o senhor afirma que está maluco, não é?
_ É.
_ Então? Quem está maluco, não sabe que está maluco, portanto, se senhor acha que está maluco, é porque o senhor não está maluco.
_ Tem certeza?
_ Tenho.
_ Então o que eu faço com essa tristeza, essa angústia no meu peito e essa vontade de chorar?
_ O senhor vai pra casa, toma um copo de água com açúcar, senta quietinho num canto, que isso passa.
_ Sério?
_ Sério.
_ Então tá bom, muito obrigado.
_ De nada.
Deve ter dado certo, o homem nunca mais voltou.
Fonte:
Livro de Ouro do Conto Brasileiro Contemporâneo. RJ: Câmara Brasileira dos Jovens Escritores, Junho de 2011.
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