sábado, 7 de janeiro de 2012

Guerra Junqueiro (O Pinheiro Ambicioso)


Era uma vez um pinheiro que não estava contente com a sua sorte. «Oh! dizia ele, como são horrendas estas linhas uniformes de agulhas verdes, que se estendem ao longo dos meus braços! Sou um pouco mais orgulhoso que os meus vizinhos, e sinto que fui feito para andar vestido de outro modo. Ah! se as minhas folhas fossem de ouro».

O Gênio da montanha ouviu-o, e no dia seguinte pela manhã acordou o pinheiro com folhas de ouro. Ficou radiante de alegria, e admirou-se, pavoneou-se todo, olhando com altivez para os outros pinheiros, que, mais sensatos do que ele, não invejavam tão rápida fortuna. À noite passou por ali um judeu, arrancou-lhe todas as folhas, meteu-as num saco e foi-se embora, deixando-o inteiramente nu dos pés à cabeça.

«Oh! disse ele, que doido que fui! Não me tinha lembrado da cobiça dos homens. Despiram-me de todo. Não há agora em toda a floresta uma planta tão pobre como eu. Fiz mal em pedir folhas de ouro: o ouro atrai as ambições.

«Ah! se eu conseguisse um vestuário de cristal! era deslumbrador e o judeu avarento não me teria despido.»

No dia seguinte acordou o pinheiro com folhas de cristal, que reluziam ao sol como pequeninos espelhos. Ficou outra vez todo contente e orgulhoso, fitando desdenhosamente os seus vizinhos. Mas nisto o céu cobriu-se de nuvens e o vento rugindo, estalando, quebrou com a sua asa negra as folhas de cristal.

«Enganei-me ainda, disse o jovem pinheiro, vendo por terra, feito em bocados, o seu manto cristalino. O ouro e o cristal não servem para vestir os bosques. Se eu tivesse a folhagem acetinada das aveleiras, seria menos brilhante, mas viveria descansado.»

Cumpriu-se o seu último desejo e, apesar de ter renunciado às vaidades primitivas, julgava-se ainda mais bem vestido do que todos os outros pinheiros seus irmãos. Mas passou por ali um rebanho de cabras, e vendo as folhas tenrinhas e frescas, comeram-lhas todas sem lhe deixar uma única.

O pobre pinheiro envergonhado e arrependido, já queria voltar à sua forma natural. Conseguiu ainda este favor e nunca mais se queixou da sua sorte.

Fonte:
Guerra Junqueiro. Contos para a infância.

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