terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Adonias Filho (O Largo da Palma) 5. O Enforcado

 Embasamento histórico: Revolução dos Alfaiates (1798).

Foco narrativo - Narrativa em 3ª pessoa, mas enquadrada à ótica de um personagem: o ceguinho da Palma.

 Presente narrativo: “dia dos enforcados” – “quatro homens, um quase menino, todos mulatos”: A “execução, um espetáculo exemplar”.

Personagens - Ceguinho da Palma e Valentim.

Crítica sócio-histórica - “o governo e os graúdos”, a opressão, o terror, o medo, a insegurança.

Ambiente - Largo da Palma, Piedade.

Linguagem - Uso dos mesmos recursos expressivos que se fazem presentes nas outras novelas: metáforas, comparações, frases nominais, enumerações etc.

 Inversão (explorando o valor expressivo do adjetivo): Inúmeros os que passavam por ele, todos apressados, alguns como que corriam.” “E porque grande era o silêncio e ouviu o barulho dos grilhões de ferro, soube que se arrastavam os que caminhavam para a morte.”

Linguagem coloquial - Adequada ao personagem central (o ceguinho), encontramos expressões e palavras de linguagem coloquial. Palavras como: “birosca”, “porrete”, “estrebuchavam”. Expressões como “quero um gole da melhor” “engolir a aguardente” “boa pinga!” “é de arrebentar o coração” “exemplo de merda”; e o uso do pronome sujeito como complemento verbal: “Que a Senhora da Palma ajude eles”.

RESUMO

O ceguinho da Palma, como todos os chamavam, era um home que de tão magro e pequeno era quase um anão. Morava em umas estrebarias abandonadas junto com índios, negros libertos, ladrões e mendigos. Nas noites quentes dormia pela rua mesmo, mas quando chovia abrigava-se dentro da igreja. Estava sempre ali no Largo da Palma a pedir esmolas.

Diziam que ele havia ficado cego por ter falado mal da Santa da Palma e agora estava ali cumprindo castigo há anos, certo de que um dia a Santa o perdoaria e ele voltaria a enxergar. Talvez isso fosse mesmo verdade, já que ele se salvava de todas as pestes, tais como tifo e a varíola, que assombravam a Bahia às vezes, como se a Santa o quisesse vivo para pagar a penitência.

Em um certo dia, quando João-o-Manco, vigia da região, veio acordá-lo logo cedo, disse que aquele seria o dia em que iriam enforcar uns condenados no Campo da Piedade. A missa daquele dia tinha apenas umas dez pessoas, e ninguém negou esmola ao ceguinho como se todos temessem alguma coisa. O ceguinho da Palma sentia uma dor no coração, não de sua tristeza, mas de uma tristeza que nascia da cidade a esperar as mortes.

O ceguinho da Palma juntou-se ao povo que caminhava em direção ao Campo da Piedade. Parecia que naquele dia a Bahia havia parado para acompanhar os enforcamentos. Perto do Convento das Freiras, ele parou na birosca do Valentim e pediu uma bebida. Valentim era um filho de escrava liberta e pai desconhecido, que havia conseguido juntar dinheiro sabe-se lá como e comprado casa, terreno e montado essa bodega. Apesar das muitas especulações que haviam em torno dele, o certo é que Valentim tinha amigos na cidade de Salvador inteira.

Então os dois seguiram juntos rumo ao Campo da Piedade para acompanhar os enforcamentos. Para o cego a cidade parecia triste, mas para Valentim a Bahia nunca fora alegre, pois uma cidade que tem escravos não pode ser alegre. Aqueles enforcamentos serviriam para que o povo aprendesse a lição, pois D. Fernando José de Portugal e Castro, governador da Bahia, poderia perdoar ladrões e assassinos, mas não os inimigos do Rei.

Já se encontravam no Campo da Piedade, frente à grande forca de madeira da lei, grande o suficiente para que nem mesmo um anão deixasse de ver o espetáculo. E assim, os condenados foram chegando e sendo enforcados rapidamente um a um: Manuel foi o primeiro, depois Lucas, Luís e, por fim, João.

O ceguinho da Palma não sabe que fim levou Valentim perdido no meio da multidão. Foi retornando devagar, passo a passo em direção ao Largo da Palma, que reconheceu com os pés descalços ao pisar nas pedras ásperas e a grama macia. Sentiu o cheiro do incenso e imaginou que naquele momento já estariam a cortar as cabeças e mãos dos enforcados para deixar em exposição no Cruzeiro de São Francisco ou na Rua Direita do Palácio. Então o ceguinho ajoelhou-se com as mãos na porta da igreja e essa foi a única vez em toda a vida que agradeceu à Santa da Palma por ter ficado cego.

Fontes:
http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/analises_completas/o/o_largo_da_palma
http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/literatura/largo-palma-resumo-obra-adonias-filho-701985.shtml

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