terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

J. G. de Araújo Jorge ("Os Mais Belos Sonetos que o Amor Inspirou") Parte 20

Dilamar Machado
(Dilamar Valls Machado)
(São Luiz Gonzaga/RS, 27 outubro 1935 – Porto Alegre/RS, 27 agosto 2001)

" ROSA DE MAIO "


Rosa de Maio, linda flor de outono,
jóia escondida num jardim divino,
tu, que és a doce flor de meu destino
e a imagem santa que me enfeita o sono,

dá que esse olhar ardente e peregrino
de um país tão distante, cor de outono,
agora que me deixas no abandono
acalme a dor a que me predestino,

pois, já se uniram, para mágoa minha
o minha flor de Maio, em cruel engenho
que o destino criou pra meu sofrer,

esta paixão ardente que ainda tinha,
a incerteza mesquinha que hoje tenho
e a saudade cruel que eu hei de ter.
––––––––––

Dionísio Vilarinho,
(Amarante/PI, 1921 – Alegrete/RS, 1947).

" DESENLACE "


Foste sincera em revelar, querida,
que não me queres mais. Muito obrigado:
já não serás por mim mais iludida,
já não serei por ti mais enganado.

Eu também já vivia amargurado
de suportar essa paixão fingida,
sabendo que não era mais amado
e que não eras mais a preferida.

Hoje, quebrando os derradeiros elos
que te traziam presa aos meus desejos,
que me traziam preso aos teus anelos,

troquemos, sem tristeza, o último adeus:
tu, sem saudade alguma dos meus beijos,
eu, sem pensar sequer nos beijos teus...

" REGRESSO "

- Voltaste? É tarde, mas, entra no entanto...
já não encontrarás do mesmo jeito
aquele amor que escarneceste tanto
por outro amor, dos sonhos teus eleito.

O tempo, a dor e o corrosivo efeito
da saudade, das mágoas e do pranto,
fizeram da alameda do meu peito
um fúnebre e tristonho campo santo.

Quando partiste, bela, há tantos anos,
nunca pensei que havias de voltar
assim cheia de mágoa e desenganos...

Regressaste, contudo, ao ninho agreste . . .
E eu já não tenho mais para te dar
senão os desenganos que me deste…
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Djalma de Andrade
(Congonhas do Campo/MG, 3 dezembro 1893 – Belo Horizonte/MG, 13 maio 1975)

" GLORIOSA "


Há mulheres que vencem pela graça,
vencem, dominam de uma tal maneira,
que o coração viril, por mais que faça,
nunca mais tem a liberdade inteira.

Em outras, a ternura nos enlaça,
uma ternura doce e verdadeira:
são corações de arminho, almas sem jaça,
de sombra acolhedora e hospitaleira.

Eu sei que as há, bem vejo claro e exulto,
mas não me ofusca a forte claridade,
mas não lhes rendo meu fervor, meu culto,

pois nenhuma, por certo, se avizinha,
na graça, na ternura, na bondade,
daquela que nasceu para ser minha.
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Domingos Carvalho da Silva
(Vila Nova de Gaia/ Portugal, 21 junho 1915 – São Paulo/SP, 2004)

" NÁUFRAGOS "


Somos dois sobre um mar de misteriosas
praias de sonho e vagas florescendo
em algas. Deliramos percorrendo
dias ébrios de luz e tenebrosas

noites de desespero. Vejo rosas
em torno de tuas ancas. Vão crescendo
pássaros em teus seios. Sobre o horrendo
e frio abismo, estrelas-mariposas

procuram os teus olhos. Pirilampos
se apagam no horizonte ou no infinito.
As artérias cavalgam hipocampos

no mar. Cinjo teu corpo, enfim, e o Norte
e o Sul do mundo ouvem teu nome. E um grito
de espasmo ecoa entre o prazer e a morte.

Fonte:
– J.G . de  Araujo Jorge . "Os Mais Belos Sonetos que o Amor Inspirou". 1a ed. 1963

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