sexta-feira, 27 de março de 2020

Alphonsus de Guimaraens (Baú de Trovas)

Afonso Henrique da Costa Guimarães

Como, Jesus, me esqueceste
nesta horrível soledade?
Aos trinta e três tu morreste...
E eu já tenho a tua idade!
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Nasci em leito de rosas
e morro em leito de espinhos...
Ó mães, que sois caridosas,
zelai por vossos filhinhos!
- - - - - –

O cinamomo floresce
em frente do teu postigo;
cada flor murcha que desce
morre de sonhar contigo.
- - - - - –

O coqueiro, todo em palmas,
beija o cinamomo em flor...
Imagem das nossas almas,
unidas no mesmo amor!
- - - - - –

Quando em teus olhos reluz
o carinho de uma prece,
se é dia, o sol tem mais luz,
se é noite, logo amanhece.
- - - - - –

Quando os teus olhos, Senhora,
repousam no meu olhar,
fica mais formosa a aurora,
mais formoso fica o luar.
- - - - - -

Tradições, quimeras, lendas...
Ninguém crê na Eterna Voz!
Que vale, Senhor, que estendas
o teu carinho até nós?
- - - - - –

Tristeza das tardes ermas,
das noites brancas de luar!
As almas que estão enfermas
no teu seio vão chorar...
- - - - - –

Tu não sabes porque a lua
é triste e nunca sorri...
Mas que ingenuidade a tua!
— Os poetas moram ali.
- - - - - –

Fonte:
Aparício Fernandes (org.). Trovadores do Brasil. 2. Volume. RJ: Ed. Minerva,

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