Um automóvel havia encalhado em certo ponto de mau caminho, num atoleiro.
– E agora?
– Agora é procurar bois na vizinhança e arrancá-lo à força viva.
Assim se fez. Arranjam os bois – uma junta.
Atrelam-na ao carro e principia a luta.
– Vamos, Malhado! Puxa, Cuitelo!
Os bois estiram os músculos num potente esforço, espicaçados pelo aguilhão.
Mas não basta. É preciso que todos, serviçais e passageiros, metam ombros à tarefa e, empurrando de cá, alçapremando de lá, ajudem o arranco dos bovinos. A mosca aparece. Assunta o caso e resolve meter o bedelho onde não é chamada. E toda aflita começa – voa daqui, pousa ali, zumbe à orelha de um, pica no focinho de outro, atormenta os bois, atrapalha os homens – a multiplicar-se de tal maneira que dá a impressão de ser não uma só, mas um enxame inteiro de moscas infernais.
O carro, afinal, saiu do atoleiro.
– Uf! Que trabalhão me deu!... – disse a mosquinha enxugando o suor da testa.
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– A Joana Baracho é assim – comentou Narizinho. – Lá na casa dela as irmãs fazem tudo, mas quem finge que sua é ela. Certas fábulas são retratos de pessoas.
– E isso é instintivo – tornou Dona Benta. – Lembra-se, Pedrinho, daquele jogo de futebol lá na vila? Os assistentes “torciam”, e quando a bola entrava no gol não havia um que não atribuísse o ponto à sua torcida pessoal.
Fonte:
Monteiro Lobato. Fábulas.
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