Era uma vez um príncipe e uma princesa que se amavam muito. Ela era terna, linda e muito estimada por todos, embora mais propensa à diversão e ao jogo que às atividades do lar.
O fato parecia não ser do agrado da velha rainha, pelo que declarou que não queria ter como nora uma mulher que não fosse tão ativa como ela fora na juventude, e opôs-se de todas as formas e maneiras possíveis ao casamento do príncipe.
Como a rainha não queria voltar com a palavra atrás, o príncipe procurou-a e pediu que o deixasse pôr a noiva à prova, para verificar se era tão ativa no trabalho como ela tinha sido. O pedido pareceu a todos muito arrojado, pois a mãe do príncipe continuava a ser uma mulher infatigável, que passava dia e noite a fiar, coser e tecer, de tal modo que ninguém a conseguia igualar. No entanto, consentiu finalmente que se cumprisse a vontade do príncipe. Assim, conduziram a bela princesa à sala das mulheres e a rainha enviou-lhe vinte libras de linho para que o fiasse, tarefa que devia estar concluída antes do amanhecer, de contrário nem pensar na possibilidade de receber o príncipe por esposo.
Quando ficou só, a princesa sentiu-se muito mal. Sabia perfeitamente que não poderia fiar o linho da rainha e, por outro lado, não queria perder o jovem príncipe, que tanto a amava. Por conseguinte, dava voltas pela sala, chorando ininterruptamente. De súbito, a porta abriu-se devagar para dar passagem a uma velha muito pequena, de aspecto assaz estranho, com uns pés enormes que causariam estranheza a quem a visse. Saudou a princesa com as palavras:
- Paz de Deus!
- A paz de Deus seja contigo!
- Porque está tão triste esta noite a bela donzela?
- Não hei de estar, se a rainha me ordenou que fiasse vinte libras de linho? Se não terminar o trabalho antes do amanhecer, perderei o meu amado príncipe!
- Consola-te, bela donzela! Se é apenas isso, posso ajudar-te. Mas tens de me conceder o desejo que passo a comunicar-te.
Ao ouvir isto, a princesa sentiu-se invadida por uma enorme alegria e perguntou em que consistia esse desejo.
- Bem, chamo-me Storfota-mor e a única recompensa pela minha ajuda limita-se a estar presente na tua boda. Não assisto a uma desde que a rainha, tua futura sogra, foi a noiva.
Concedeu-lhe de bom grado e a seguir separaram-se. A princesa deitou-se, mas não conseguiu pregar olho em toda a noite, que lhe pareceu eterna.
De madrugada, antes que rompesse o dia, a porta abriu-se e a velha reapareceu, para se aproximar da princesa e entregar-lhe um novelo de fio tão branco como a neve e fino como uma teia de aranha.
- Não fiava um novelo tão lindo como este desde que o fiz para a rainha, quando ia casar - informou. - Mas já lá vai muito tempo.
Em seguida, retirou-se e a princesa mergulhou num sono leve e reparador. Mas não tinha passado muito tempo, quando a rainha a acordou a perguntou se havia completado a tarefa. Ela respondeu que sim e entregou-lhe o novelo. Assim, a rainha teve de se considerar satisfeita, embora fosse evidente que o fazia com relutância.
Quando amanheceu, a rainha disse que queria submetê-la a outra prova. Enviou o novelo à sala das mulheres, juntamente com o tear e todos os apetrechos necessários, e ordenou à princesa que o tecesse. O tecido devia estar terminado antes do nascer do Sol, de contrário escusava de pensar sequer em casar com o jovem príncipe.
Quando ficou só, a princesa voltou a sentir-se amargurada, pois sabia que não conseguiria cumprir a nova tarefa, apesar de não querer perder o príncipe, que tanto amava. Desmoralizada, movia-se de um lado para o outro, chorando amargamente, quando a porta se abriu para dar passagem a uma velha muito pequena, de aspecto estranho e semblante ainda mais invulgar. Além disso, o seu traseiro era tão grande que quem o visse teria forçosamente de ficar abismado. Saudou-a com as palavras:
- Paz de Deus!
- A paz de Deus seja contigo!
- Porque está tão triste e preocupada a bela donzela?
- Não hei de estar, se a rainha me ordenou que tecesse este novelo? Se não o fizer antes de raiar o dia, perderei o príncipe, que tanto me ama.
- Se é apenas isso, posso ajudar-te. Mas com a condição que passo a comunicar-te.
Ao ouvir isto, a princesa foi invadida por uma enorme alegria e perguntou em que consistia esse desejo.
- Bem, chamo-me Storgumpa-mor, e a única recompensa pela minha ajuda limita-se a estar presente na tua boda. Não assisto a uma desde que a rainha, tua futura sogra, foi a noiva.
Concedeu-lhe de bom agrado e a seguir separaram-se. A princesa deitou-se, mas não conseguiu pregar olho em toda a noite, que lhe pareceu eterna.
De madrugada, antes que rompesse o dia, a porta abriu-se e a velha reapareceu, para se aproximar da princesa e entregar-lhe um tecido tão branco como a neve e tão delicado como uma pele.
- Não tinha voltado a tecer nada como isto desde que o fiz para a rainha, quando se ia casar. Mas já lá vai muito tempo.
Com estas palavras, a velha retirou-se e a princesa reconfortou-se com um sono agradável, embora de curta duração, pois não passara muito tempo quando a rainha a acordou e perguntou se concluíra a tarefa.
A princesa respondeu que sim e entregou-lhe o lindo tecido. A rainha viu-se forçada a considerar-se satisfeita pela segunda vez, embora fosse evidente que o fazia com relutância.
A princesa supunha que não teria de se submeter a mais provas, porém a rainha não era da mesma opinião. Um pouco mais tarde, mandou entregar o tecido à sala das mulheres, com a recomendação de que confeccionasse com ele camisas para o noivo. Deviam estar prontas antes do nascer do Sol, de contrário a princesa escusava de pensar em casar com o príncipe.
Quando voltou a encontrar-se só, a princesa sentiu-se muito amargurada. Sabia que não conseguiria completar o encargo, mas não queria perder o príncipe, que tanto amava. Desmoralizada, movia-se de um lado para o outro, chorando copiosamente, quando a porta se abriu para dar passagem a uma mulher muito pequena e velha, de aspecto assombroso e um semblante ainda mais singular, com um polegar tão incrivelmente grande que deixaria qualquer observador estupefato.
- Paz de Deus! - saudou.
- A paz de Deus seja contigo! - replicou a princesa.
- Porque está tão triste e só a bela donzela?
- Não hei de estar, se a rainha me ordenou que cosa com esta tela de linho camisas para o príncipe? Se não o faço antes de amanhecer, perco o meu noivo que tanto me ama.
- Consola-te, bela donzela. Se é só isso, posso ajudar-te. Mas com uma condição que passo a expor.
Ao ouvir estas palavras, a princesa alegrou-se enormemente e quis saber qual era a condição.
- Bem, chamo-me Stortumma-mor e apenas quero a recompensa de assistir à tua boda. Não presencio nenhuma desde que a rainha, tua sogra, foi a noiva.
A princesa concedeu-lhe de bom grado o desejo e a seguir separaram-se e ela deitou-se e dormiu tão mal que nem sequer sonhou com o noivo.
De madrugada, antes do nascer do Sol, a porta abriu-se e surgiu de novo a velha, que se aproximou da princesa, acordou-a e entregou-lhe umas camisas, cosidas e bordadas com tanta arte, que seria impossível encontrar outras iguais.
- Não cosia camisas tão boas como estas desde que o fazia para a rainha - declarou a mulher. - Mas já lá vai muito tempo.
Posto isto, desapareceu, pois acabava de chegar a rainha para saber se as camisas estavam prontas. A princesa respondeu que sim e entregou-lhas. Em face disso, a rainha enfureceu-se tanto, que os olhos emitiram chispas, mas reconheceu:
- Está bem, ele é, teu! Não pensei que pudesses ser tão rápida.
E retirou-se, batendo com a porta tão violentamente, que o som retumbou em todo o palácio.
O príncipe e a princesa podiam finalmente casar, como a rainha prometera, pelo que se iniciaram os preparativos dos esponsais.
No dia estipulado, a princesa não estava especialmente contente, pois não sabia se as suas singulares convidadas apareceriam. Chegado o momento, a boda celebrou-se, segundo a antiga tradição, com prazer e alegria, mas por mais que ela olhasse para todos os lados não descortinava nenhuma mulher idosa. Por fim, quando os convidados tinham de se sentar à mesa, deu-se conta da presença das três, que ocupavam outra a um canto da sala. Ao avistá-las, o rei perguntou de quem se tratava, pois via-as pela primeira vez, e a mais velha informou:
- Chamo-me Storfota-mor e tenho os pés tão grandes pelo muito que fiei na minha vida.
- Nesse caso - replicou o monarca -, é conveniente que a minha nora não tenha de voltar a fiar.
A seguir, dirigiu-se à segunda mulher e perguntou-lhe o motivo do seu singular aspecto.
- Chamo-me Storgumpa-mor e tenho o traseiro tão grande pelo muito que teci na minha vida - foi a resposta.
- Nesse caso - decidiu o rei -, é também conveniente que a minha nora não tenha de voltar a tecer.
Quando se voltou para a terceira velha e lhe perguntou quem era, Stortumma-mor levantou-se e explicou que tinha um dos polegares tão grande devido ao muito que cosera ao longo da sua vida.
- Nesse caso - concluiu ele -, é igualmente conveniente que a minha nora não tenha de voltar a coser.
E assim foi. A bela princesa recebeu a mão do príncipe e ficou eximida para toda a vida de fiar, tecer e coser.
No final da boda, as avozinhas partiram. Ninguém viu que rumo tomaram, nem se sabia de onde tinham vindo. No entanto, o príncipe viveu satisfeito e feliz com a esposa e tudo decorreu com muito mais calma e tranquilidade, pois a princesa não era tão ativa como a exigente e severa rainha.
Fonte:
Ulf Diederichs, Palácio dos Contos. Lisboa/Portugal: Círculo de Leitores, 1999.
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