domingo, 8 de março de 2020

Antônio Assumpção (Pétalas de Versos)


FOLHAS DO OUTONO — I

Fui jogado neste mundo
como uma nave no espaço…
De trevas é o meu destino!
Apenas às vezes um raio de luz
de fugidia estrela
deixa-me entrever o que me espera..,

FOLHAS DO OUTONO — II

Mar verde
que se perde
alucinado,
encapelado,
em ondas
transformando
as ilusões
do meu sentir...

FOLHAS DO OUTONO — III

Eu sinto o marulhar das ondas
em teus cabelos loiros...
Teu rosto escultural de jambo
e lábios sensuais!
Tens o segredo de deusas
no cimo de pedestais...

FOLHAS DO OUTONO — IV

Arfa o meu coração...
Meu corpo, em êxtase, se agita,
quando sobre ti eu vibro com a vida
e a perpetuo!

FOLHAS DO OUTONO — V

Ao som do fox dolente,
à meia luz...
Eu ouço e bebo todas as frustrações

FOLHAS DO OUTONO — VI

Eras uma estrela...
E eu, outra,
erradia,
no Universo,
buscando em ti a chama do amor...
E um dia,
fugazmente,
nos unimos,
para depois errarmos...
Errarmos sós.
E infinitamente...

FOLHAS DO OUTONO — VII

Que me importa? Que me importa
se já agora não me amas,
se apagadas estão as flamas
do amor que me juraste?
Que me importa? Se me vou
para a poeira dos espaços,
mergulhando os longos braços
no éter das solidões.
E, ascendendo, vá encontrando
outros mundos, outras luas...
ou, nos sonhos, antegozando
as carícias das virgens nuas,
que habitam mil galáxias,
em paraísos sem ruas.

FOLHAS DO OUTONO — VIII

Tu, quando estás triste, choras,
mas eu, poeta, chorar não posso,
Só se me consente derramar
em versos
as lágrimas da tristeza,
para transforma-las
em pérolas de beleza!

FOLHAS DO OUTONO — IX

Sobre este tão brumoso
e largo mar de sono,
chuvas de rosas
e coruscantes auroras
loucamente se desmancham
em folhas do outono...

FOLHAS DO OUTONO — X
Todos são livres.
Todos patrícios.
De três raças herdeiros,
são todos brasileiros.
Brasileiros ricos,
brasileiros de pés descalços...

FOLHAS DO OUTONO — XI

Qual a forma que ousa ouvir meu grito?
Qual a noite que se converterá em um clarão
para ouvir meu grito?
Quem ouvirá minha mensagem de amor
e de desespero?
Quem nascerá dos lírios
para ouvir meu grito?

FOLHAS DO OUTONO — XII
Uma rosa
Um perfume
O meu ciúme
Uma cruz
Um queixume
O teu perfume.

SOL NOTURNO — II

Quando o sol imaginou
que uma canção
fosse cantada,
uma brisa o apagou,
E na noite dourada
tudo ao silêncio voltou,

SOL NOTURNO — III

Por uns momentos
tu de novo me quiseste
e o mundo
retornou ao Paraíso.
Um raio fugaz
do teu sorriso
era todo o sol da terra,
antes da sombra
que vestiu minha alma.

SOL NOTURNO — V

Negro Sol.
Que paixão!
Pudesse eu
ser livre
e sempre Sol
na Solidão!

SOL NOTURNO — VI

Se me perco nesta estrada,
ela assim já tão cavada
de vida que andei perdendo,
vou sorrindo no amanhã,
que o Sol está acendendo
na noite do grande nada.

SOL NOTURNO — IX

Eu sou o Sol da noite abissal.
Eu vim trazer
no ouro do meu ser
o sangue e o sal da luz.
Clarão da madrugada,
eu sou o Profeta
que canta a Amada.

SOL NOTURNO — X

Eu sou a chama,
eu sou a luz
e sou a flor.
Uma fagulha de amor
incendiando as trevas.
E, na tristeza do mundo,
a vermelha rosa,
que no peito levas.

SOL NOTURNO — XI

Chorei a rosa da vida,
que tão cedo murchou...
E como um anel de ouro
o Sol me foi servido
na taça da Noite!
E um lírio então brotou
na canção da Eternidade...

SOL NOTURNO — XII
Que importa a dor
no signo da manhã morta?
Repousa silente à sombra do cipreste
e não esqueças o sonho
de um imenso Sol agreste.

SOL NOTURNO - XIV

Quando as sagas da noite surgirem
e eu já não puder fugir,
empunharei uma Espada
para o teu caminho abrir.
E um Sol então despertará
entre os lírios
na manhã dourada e eterna.

SOL NOTURNO — XVI

Onde estão os poetas?
Que flores estarão plantando
na manhã
em verdes campos?

NOVlLÚNIO — I

Em sono e vento
acordei para o amanhã.
E então brisas
em ouro
sopraram na floresta
que encobria o Sol,
No reino se fecundaram astros
que atropelaram os róseos sonhos.
E as águas mornas do lago
me cobriram de poemas.
A Poesia, a deusa que me embalava.
E a noite, o ósculo em que apaguei todos os sonhos!

NOVILÚNIO — II

O som de negro explodiu
nas róseas sombras
e a paina se ergueu
símbolo das noites.
Trombas de luz faiscaram então
na rósea luz de tua mão.
E, perdida,
eu te busquei,
chorando ventos
e cantando areia.
E na dor dos meus passos lentos,
eu era inseto grudado à teia.

NOVILÚNIO — III

Novilúnio.
Da noite brotou o Futuro,
muro sem vida,
escondendo o Sol.
Suaves acordes
deleitaram o triunfo.
A aguerrida Lua
beijando o Sol.

NOVILÚNIO — IV

Lá está a minha grei.
Lá está a minha gente.
Lá de alguma forma
eu sou rei.
Lá está minha vertente,
lá nos meus pagos distantes
dos legendários heróis.
Lá onde ao cair da tarde
é de ver-se o Sol que arde
nos corações minuanos...
E do vento frio,
na planície,
ergue-se a Cidade-sereia,
a Noiva do Mar!

Fonte:
Aparício Fernandes (org.). Anuário de Poetas do Brasil – 3. Volume. Rio de Janeiro: Folha Carioca, 1980.

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