segunda-feira, 16 de março de 2020

Carlos Estevão de Oliveira (1880 – 1946)


Carlos Estevão de Oliveira, poeta pernambucano, nasceu em Recife, no dia 30 de abril de 1880 e faleceu em junho de 1946. Foi Diretor do Museu Goeldi, em Belém do Pará. Formado em Direito pela Faculdade do Recife. Carlos Estêvão foi, no início do século, um dos pioneiros do movimento trovadoresco no Brasil, iniciado em Recife com a publicação de uma coletânea de trovas intitulada "Descantes" em 1907. Nesse livrinho estavam reunidas trovas de Adelmar Tavares, que então tinha 19 anos,  amigo pessoal de Carlos Estevão e dos que promoveram tal coletânea como Carlos Estêvão, Manoel Monteiro, Moreira Cardoso e Silveira de Carvalho. Além da publicação mencionada, existe outra pequena publicação denominada "Cantigas", contendo novas trovas do Estevão. Esta obra está registrada no "Dicionário Literário Brasileiro Ilustrado" de Raimundo Menezes.

Depois de formado em Direito em 1907, Carlos Estêvão transferiu-se para Belém em princípios de 1908. O pai, que havia morrido em 1905, era  político militante e fora muito perseguido pelo Governador de Pernambuco. Esta situação de atrito e insegurança obrigou os dois irmãos, Luis e Carlos Estêvão, a abandonarem a terra natal. Parece que Carlos Estêvão ao fixar-se no Pará já estava com um emprego público garantido pelo Governador do Pará, foi nomeado Promotor de Justiça em Alenquer.

Em 1913, Carlos foi para Belém exercer a função de segundo prefeito de Segurança Pública do Estado, equivalente a Delegado de Polícia dos dias de hoje. Em 1914 foi nomeado Consultor Jurídico da Diretoria de Obras Públicas Terras e Viação, permanecendo nessa função até ser nomeado Diretor do Museu Paraense Emílio Goeldi, em 1930.

Além dessas funções de caráter oficial, Carlos Estêvão exerceu outras atividades ligadas à advocacia e ao comércio, bem como a de Fiscal de Bancos. Foi, também, um dos Diretores da Confederação das Colônias de Pescadores do Pará, entre os anos de 1930 e 1932.

Apesar disso, foi sempre um homem modesto, simples. Não tinha riqueza em moeda sonante; era honesto acima de tudo.

Carlos Estêvão morreu pobre, somente com a assistência da família, no Ceará. As suas preciosas coleções ele as doou ainda em vida para o governo de Pernambuco, que hoje as têm em exposição no Museu Estadual de Recife.

Nos últimos anos de sua vida em Belém, Carlos Estêvão morava com a esposa e a filha Lygia. Carlos Estêvão era casado com Maria Izabel Estêvão de Oliveira com quem teve três filhos

Além da cultura literária e científica de que era dotado, Carlos Estêvão possuía fina sensibilidade para a música. Conhecia bem os grandes compositores clássicos e tocava regularmente piano, tanto que, para usufruir desse deleite, havia em sua casa um desses instrumentos. Compunha também música sobre o folclore do Nordeste, das quais se destaca "Aquela canoa".
Não possuía predileção alguma pela política, tanto na Primeira República como após a Revolução de 30.

Dentre as grandes amizades de Carlos Estêvão sobressaíam os nomes do Presidente Getúlio Vargas, Magalhães Barata, D. Augusto Álvaro da Silva, na época Arcebispo Primaz da Bahia, D. Pedro de Orleans e Bragança, herdeiro do trono do Brasil, e inúmeras outras pessoas importantes como magistrados federais, ministros, militares, escritores, cientistas nacionais e estrangeiros.

Naturalista, deixou valiosos estudos inéditos sobre a fauna amazônica e a etnologia brasileira.

Desde 1930 foi um lutador ardente e realizador dos princípios na manutenção da flora e fauna em seus ambientes.

Desde muito novo, Carlos Estêvão foi um estudioso apaixonado dos índios brasileiros, Foi sempre um intransigente defensor desses povos , conheceu a fundo suas misérias e sofrimentos e em vão apelou para o bom senso dos compatriotas, em particular dos governantes da nação para que os socorressem com o mínimo necessário para evitar o    desaparecimento     irreversível    e brutal desses antigos donos da terra nativa. Quarenta anos de dedicados estudos ao problema indigenista brasileiro, notadamente sobre os índios antigos e em fase de quase desaparecimento de algumas áreas do Nordeste.

Carlos Estêvão de Oliveira viveu 37 anos no Pará. Irradiou sua simpatia por todos os cantos de Belém, transmitindo uma lição de esperança, de força de vontade, de trabalho e de confiança no futuro. Ninguém mais que Carlos Estêvão sabia impregnar-se e impregnar os circunstantes de otimismo com sua habilidade, espontaneidade e entusiasmo. Por isso deixou profundamente assinalada a sua trajetória na vida do Museu Goeldi.

Em fins de 1944 já se encontrava adoentado, e, sem mais energia. Algum tempo depois, sentindo-se mais abatido, viajou com a esposa para Fortaleza em busca de novos ares e melhoras.

Faleceu naquela cidade, a 5 de junho de 1946, tristemente esquecido e longe do calor do Pará, do Museu e dos amigos.

O jornal “Folha do Norte", de 6 de junho daquele ano, registrou: "Com o desaparecimento de Carlos Estêvão, o meio cultural e a sociedade sofrem imensa perda e o país um excelente cidadão. Seu maior desejo era morrer no Pará. Viveu pela Amazônia, mas o destino não lhe permitiu essa vontade de apaixonado pelos seus segredos".

Alguns dias depois, a Academia Brasileira de Letras prestou justa homenagem, com o elogio feito pelo seu velho amigo de faculdade, Dr. Adelmar Tavares.

Carlos Estevão faleceu como Diretor do Museu Paraense, pois o cargo era efetivo e não em comissão.

Fontes:
– Aparício Fernandes (org.). Trovadores do Brasil. 2. Volume. RJ: Ed. Minerva,
– Osvaldo Rodrigues da Cunha. Talento e atitude: Estudos Biográficos do Museu Emílio Goeldi. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, 1989.

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