Gato-do-mato, jaguatirica e irara receberam convite da onça para constituírem a Liga das Nações.
– Aliemo-nos e cacemos juntos, repartindo a presa irmãmente, de acordo com os nossos direitos.
– Muito bem! – exclamaram os convidados. – Isso resolve todos os problemas da nossa vida.
E sem demora puseram-se a fazer a experiência do novo sistema. Corre que corre, cerca daqui, cerca dali, caiu-lhes nas unhas um pobre veado. Diz a onça:
– Já que somos quatro, toca a reparti-lo em quatro pedaços.
– Ótimo!
Repartiu a presa em quatro partes e, tomando uma, disse:
– Cabe a mim este pedaço, como rainha que sou das florestas.
Os outros concordaram e a onça retirou a sua parte.
– Este segundo também me cabe porque me chamo onça.
Os sócios entreolharam-se.
– E este terceiro ainda me pertence de direito, visto como sou mais forte do que todos vós.
A irara interveio.
– Muito bem. Ficas com três pedaços, concordamos (que remédio!); mas o quarto tem de ser dividido entre nós.
– Às ordens! – exclamou a onça. – Aqui está o quarto pedaço às ordens de quem tiver coragem de agarrá-lo.
E arreganhando os dentes assentou as patas em cima.
Os três companheiros só tinham uma coisa a fazer: meter a cauda entre as pernas. Assim fizeram e sumiram-se, jurando nunca mais entrar em Liga das Nações com onça dentro.
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Disse o Visconde de Sabugosa:
– Na minha opinião, as fábulas mostram só duas coisas: 1) que o mundo é dos fortes; e 2) que o único meio de derrotar a força é a astúcia. Essa da Liga das Nações, por exemplo. Os animais formaram uma liga, mas que adiantou? Nada. Por quê? Porque lá dentro estava a onça, representando a força, e contra a força de nada valeram os direitos dos animais menores. Bem que a irara fez ver o direito desses animais menores. Mas nada conseguiu. A onça respondeu com a razão da força. A irara errou. Em vez de alegar direito, devia ter recorrido a uma esperteza qualquer. Só a astúcia vence a força.
Fonte:
Monteiro Lobato. Fábulas.
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