sexta-feira, 27 de março de 2020

João Batista Leonardo (Uma Parte que se Foi)


Nas infindáveis perguntas sem respostas mais uma insinuante ao impossível e ao abstrato, incide curiosidade: companheiro, onde está você? Testemunho dos momentos no enfrentamento cotidiano, da continuidade, e do desgaste pelos idos tempos. Juntos sempre na mitigação das dores; no alívio dos sofrimentos; na força ao debilitado; na palavra ao desesperado; na participação intrigante no surgimento e fim da vida, do primeiro sorriso até o último choro.

Seria possível me responder ao menos: onde está você?

Sei que foi com as águas, evaporou e diluiu nos ares em continuação com nuvens, foi para o firmamento, levando um pouco de mim; por isso nas horas de dificuldades, alegrias e tristeza falo de você, e sei que existe, porque na natureza nada é destruído, tudo é transformado.

Sempre estivemos juntos e nunca disse que compúnhamos um todo, um, objeto do outro, um, consequência do outro. Nas lutas até injustas no picadeiro vivenciado, jamais nos destruíram, amigos bons não faltaram, amigos falsos jorraram, porém, em cada queda prontamente levantamos, pois entendemos que a humilhação não está na queda, mas sim, no sucumbir.

Começamos bem lá embaixo, galgamos valorosos degraus então os tempos nos sorriram, nós os vivenciamos, neles abraçamos as oportunidades e percebemos êxitos.

Construímos muito, destruímos poucos, causamos muitos sorrisos e pouco choro, trouxemos muitas vidas ao mundo e nenhuma tiramos. Semeamos a luz e a esperança por onde passamos, mesmo em meio aos percalços e incompreensões, éramos na certeza da boa intenção.

Nas alegrias também estivemos juntos; vivemos o esporte, nos banhamos nas grandes cachoeiras e passeamos por praias e praças engalanadas. Juntos vimos grandes espetáculos mundiais, andamos e respiramos nos quatro cantos da terra, conhecemos costumes de vida e gentes diferentes, porém, sempre valorizando a cultura e aprendizado.

Na aspereza dos tempos plantamos na terra nua, e dela fizemos um caminho firme, onde, com segurança pisamos e o mostramos aos menos corajosos. Nas horas amuadas, fomos ao campo buscar a flor do conhecimento, na sua fragrância encontramos a alegria e força da solidariedade, na valorização familiar e profissional. Em nossa seara embrenhamos luz, frutos e esperança, que por certo iluminaram e fortificaram a continuidade de tantos, na busca da gratificação. Na qualidade de humanos, cometemos erros e enganos, porém sempre desprovidos da maldade intencional.

Onde estiver saiba que tudo foi muito natural, propositalmente, e a soma dos fatos compõe o fardo dos tempos vividos, cujo conteúdo, sobretudo redunda, na boa ou má expectativa do inexorável fim; então na tristeza do choro ou na gratificação do sorriso, estarão os resultados.

Semeamos boas sementes em vários terrenos, geminaram, cresceram, arboresceram e prosperaram em nossa fertilidade e em benéficos frutos se transformaram.

Sei que a lógica nem sempre é exultante do exato, mas pensar em você, me volta os tempos, faço sondagens, revivo atitudes determinantes, hoje componentes do meu fardo, testemunho de mim mesmo. Vale a sondagem, me alegra e neste abstrativo momento, por que não esperançar? Onde está você meu suor derramado?

Fonte:
João Batista Leonardo Os tempos da esperança à razão. Maringá: Gráfica Primavera, 2008.

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