sexta-feira, 13 de março de 2020

Carlos Cavaco (Baú de Trovas)

Santana do Livramento/RS (1878-1961) Petrópolis/RJ

A própria espuma negreja
na boca do cão que late.
O covarde — é o que apedreja;
o valente — é o que combate.
- - - - - –

Embora estejas distante,
beijo-te a cada momento:
são mais velozes que os outros,
os beijos do pensamento...
- - - - - -

É preferível o insulto
que a um nome puro retalha,
a ter que ouvir e dar vulto
a elogios de um canalha!
- - - - - –

Não te detenhas: avança!
Segue de rastro ou de pé,
levando na tua lança
uma bandeira de fé!
- - - - - –

Quando avisto uma criança,
não sei porque, nela eu vejo
o sorrir de uma esperança,
o desabrochar de um beijo.
- - - - - –

Somente é grande quem luta
face a face com a sorte.
Feliz quem bebe a cicuta
sorrindo diante da morte!
- - - - - –

Tantas coisas já disseram
de teus olhos para os meus,
que meus olhos se fizeram
escravos dos olhos teus.
- - - - - –

Tu queres saber, querida,
o maior dos meus desejos?
— Forrar-te as mãos pequeninas
com duas luvas de beijos...
- - - - - –

Vivo feliz, satisfeito,
sem vaidades e sem luxo,
sentindo bater no peito
meu coração de gaúcho.

Fonte:
Aparício Fernandes (org.). Trovadores do Brasil. 2. Volume. RJ: Ed. Minerva.
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Obs. do Blog
Antigamente as trovas, apesar de obrigatório a rima entre o segundo e quarto versos, não havia esta obrigação entre os primeiros e terceiros versos. Somente com a criação da União Brasileira dos Trovadores, em 1966, foi regulamentada a obrigatoriedade da rima do primeiro com o terceiro (sistema ABAB) em competições oficiais desta entidade. 

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