Claro, os homens fazem os presentes vendidos nas lojas. Claro, as árvores não têm nada a ver com plantar e crescer. Claro, o papel de seda é bonito, o laço vermelho bem dado. Claro, tem dedicatória e cartão de boas festas.
Os presentes estão todos debaixo da árvore ou em cima da cama. Daqui a pouco vai ser papel por toda a casa, mulheres enrolando os barbantes dourados (“amanhã a gente pode precisar...”). Uma daquelas bolas vai se espatifar no chão, cacos brilhantes e desse tamanhinho em torno da árvore.
A camisa um pouco apertada, a gravata agressiva, cuidadosamente dobradas, tudo pra dentro da caixa de novo. As caixas, vazias, ficam pela sala quase que por dois dias. Os barbantes numa gaveta, dentro de outra caixa.
Bola é difícil de embrulhar e o menino a reconhece imediatamente. Claro, sem surpresa. Claro, não deixa de ser agradável. Bola não se desembrulha: tem-se de se rasgar o papel todo e sair chutando-a imediatamente pela casa. De preferência, logo de cara quebrar uma coisa com ela, ou então, com um bom chute de peito de pé derrubar a árvore. Se a árvore tiver lâmpadas elétricas, corre-se o perigo de curto-circuito. Mas é de dia ainda e o menino que vá brincar com sua bola na rua.
Como é que se dá um cachorro de presente de Natal? Claro, tem de ser pequeno e embrulhável. O papel deve ser azul e plastificado, e envolver o cachorro até o pescoço, ficando apenas a cabeça de fora.O embrulho tem de ser feito pouco antes do presente ser ofertado. Não se deve pendurar o cachorro na árvore: cai árvore e cai cachorro.
Soldadinho de chumbo não existe mais. De plástico tem. Não é a mesma coisa, claro. Mas, em todo caso, esses dão para se pendurar na árvore. Um por um ficava engraçado, se você tem senso de humor, pendure-os em lugar das lâmpadas. Não dão curto-circuito, nem ficam só com a cabeça de fora, nem podem ser chutados. Quer dizer, poder pode, mas não se deve.
Cuidado com o arco e flecha, o garoto, se não acertar no cachorro ou em você, vai direto para a parede recém pintada ‒ ali perto daquela reprodução da Ceia do Senhor. O menino vai arrancar a flecha e, então já sabe, vem um pedaço de reboco desse tamanho junto.
Brinquedo desses de corda criam caso se o pai não tomar o cuidado de não dar corda de jeito nenhum. Geralmente o pai, com um ar de perito, dá corda demais e quebra o carrinho, o tanque, ou seja lá o que for. As crianças abrem uma boca desse tamanho: “Quebrou meu brinquedo! Quebrou meu brinquedo!”.
Claro, Papai Noel existe, sim senhor. Veja só no espelho: o rosto vermelho (tomou ponche demais), os cabelos brancos, a longa barba (pegaram sua lâmina para abrir presentes), o roupão vermelho (presente de sua mulher), o ar bonachão (de quem vai sair de casa).
O trenó e as renas ficam para o ano que vem.
Fonte:
Diário Carioca. RJ: 25 dezembro 1965.
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