Acordei meio assustada, talvez o que me tenha despertado do sono profundo tenha sido um sonho horrível, um sonho inóspito do qual eu havia me esquecido há tempos. Não sei, mas me vi entremeada, estranha, como um balão cheio demais e pronto para explodir a qualquer momento.
E aquela dor incômoda, vinda das minhas entranhas – ou seria do meu coração – afligido por um mal súbito que, até então, eu desconhecia a razão e o porquê. Não atinei com a resposta, pelo menos de imediato. O fato é que esta dor foi aumentando, e a cada minuto que passava já não sabia distinguir o porquê de tamanha e confusa depreciação.
Dito de forma mais clara. Não saberia explicar exatamente o que sucedia comigo. Levantei-me cambaleante, ainda atordoada, quase não me sustendo sobre os pés. Me sentia perdida, esfacelada, completamente transtornada, numa consumação interior inexplicável.
Meu Deus! Olho agora através do espelho de meu quarto e espio, compridamente, a minha grotesca imagem. Ela está assustadora, amedrontada, assombrada, como num filme de terror à la Hitchcock. Apavorada e fora de mim, corro ao banheiro e lavo meu rosto, tentando desfazer o que vejo, e ao mesmo tempo apaziguar esta loucura insana que povoa meu semblante espavorido e intimidado que só sabe me fazer mal.
Sinto-me neste momento como se fosse a Rainha Má -, aquela bruxa antagonista saída de um conto clássico dos irmãos Grimm que oferece uma maçã envenenada para a mais bela entre as mais belas, “Branca de Neve”. À guisa deste pensamento, não me deixa formar um sorriso. Tampouco, me permite abrir a boca num ‘o’ de pura estupefação.
No entanto, um semblante macabro se faz presente, inundando meu rosto. Este mesmo rosto que mais parece um genipapo (fruta que madura, se deteriora enrugada). Fujo, pois, às pressas ou, pelo menos, tento me afastar deste momento maligno que reflete através de minha imagem, de meu amanhecer completamente sombrio...
A janela, à minha frente, se me apresenta como um cenário digno dos deuses ungidos. Há flores, árvores e pássaros cantando em derredor. Todavia, por mais que tente ver, e não só ver, captar, capturar, prender e sentir todas estas belezas, me inebriar com o sol maravilhoso que me convida para um abraço quentinho... Nada consigo!
Apesar disto, algo que não sei exatamente o que seja, me desconecta do agora e não me autoriza enxergar nada além de sombras difusas. Sombras dilatadas, extensas, que me ofuscam os passos a serem seguidos em direção ao Encantado. Esta dor alucinante, não me permite ter a visão beatificada do que é Belo e arroubado, entusiasmado, a ponto de me deixar cativa de estar viva.
Sinto-me, por tudo o que estou vivenciando agora, ou melhor, não só me sinto, me flagro sorumbática, fechada, escudada por detrás de altos muros, como um bichinho enjaulado, preso a um desespero funesto, em busca de liberdade. Liberdade que busco incessantemente desde as primeiras horas do dia.
O que devo fazer? O que preciso fazer? O que careço por em prática? O que, enfim, não posso deixar para depois? Bem sei, o inimigo ganha terreno e pior, se espalha. Este inimigo horrendo que não visa outra coisa a não ser me destruir por inteira. Esta loucura, não é de hoje, está me tirando o sossego, a tranquilidade.
Este inimigo me obstrui a afeição do Onipotente. Não me deixa ver a felicidade plena. Como larvas de um vulcão ensandecido, me mantém cativa, me tolhe, me cerca para que eu jamais consiga escapar. Preciso tomar uma atitude urgente. Esta dor infernal que dilacera meus dias, meus momentos de glórias pode vencer.
Por minha parte, não posso me dar por vencida. Preciso me concentrar, analisar, usar todas as minhas armas e conter estes instantes de pura indigestão que me deixa pra baixo, quase à pique. Tenho que, urgentemente jogar fora o que insistentemente me tortura e me aniquila.
Ao fechar os olhos, por um breve instante, me sinto desaparecida de mim mesma, distanciada de minhas quimeras, divorciada de meus objetivos a serem alcançados. De súbito, inopinadamente, um ‘buuuuummmmm’ se faz ouvir e eu me vejo retornando à crosta terrestre da minha existência. Nada, absolutamente nada sinto. Nada de nada, igual a coisa nenhuma. Incrível... No fim, eram apenas gases intestinais aprisionados dentro de meus próprios medos e receios.
Fonte:
Texto enviado pela autora.
2 comentários:
Carla Rejane me surpreende com seus textos resumidos. Textos que, embora pequenos, dão o recado, transmitem a mensagem sem os rebusques de palavras difíceis.
Uma escritora de talento, que deveria escrever mais, nos encantar mais assiduamente com seu linguajar simples e despretensioso, despojado de uma retórica séria e profunda. Todavia, uma escrita saborosa, que encanta e seduz os nossos corações.
Aparecido Raimundo de Souza
da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro.
Obrigado meu querido escritor Aparecido, suas palavras me incentivam a continuar com meus escritos 😘
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