Com sua visão antropológica da cultura, Ruth Guimarães, dedicou seus escritos e estudos para abordar o cotidiano caipira na literatura, o que, particularmente envolve os nossos antepassados indígenas. Citando a autora “O índio, nós trazemos em nós”.
Como povo, somos uma mistura de raças, e o livro traz essa valorização e engrandecimento para com as nossas origens ameríndias. Fato que vem proporcionar ao leitor um momento de autoconhecimento sobre o seu espaço.
Para quem ainda não conhece a obra de Ruth Guimarães, para elaborar as histórias, ela se auxilia basicamente no povo, essa gente simples, que assim como ela gostam de ouvir e contar causos. Buscando sempre a forma descontraída para ilustrar os acontecimentos e mistérios que envolvem o mundo.
Tanto que ao coloca-las no papel, a autora sempre prezou por essa mesma simplicidade em sua linguagem ao registrá-las.
“Quanto à linguagem, claro, recontei à minha moda. Sou portador. Sou caipira. Tenho direito”.
Em seu conteúdo, as histórias começam com os “Contos dos curumins”, que apresentam os índios Puris, primeiros habitantes da região valeparaibana, e por diante o seu cotidiano se envolve com a dos animais e figuras folclóricas das florestas.
“Que conheciam os índios? O sol, a noite, o rio, o macaco, a preá, a onça. Que queriam eles? Viver. Além do comer, do beber, do reproduzir-se, queriam também saber quem os tinha feito. Que faziam eles neste mundo”.
Assim, as divisões dos capítulos seguem com os ciclos do macaco, do jabuti, da onça, curupira e da cobra-grande. Ao final de cada fábula há uma consideração da autora sobre a sua pesquisa de acordo com o assunto, apontando as suas variações nas demais regiões e a modificação na grafia de alguns nomes.
Sobre isso, o escritor Daniel Munduruku, apresenta no prefácio um belo texto sobre as versões de histórias que ocorrem entre os povos, devido as diferentes construções. Também coloca a literatura e a produção de livros como atividades essenciais para que as culturais antigas não sejam esquecidas.
“Este importante livro da saudosa Ruth Guimarães é um documento essencial para não esquecermos nossas próprias origens ancestrais”.
Sobretudo, ler e falar sobre Ruth Guimarães é uma grande aprendizagem sobre nós mesmos. Além disso, quem se dispõe a conhecer sua ampla obra, abre-se para um universo simples do respeito pela diversidade dos povos. Como também é uma ponte de apego pela nossa gente: a que gosta de comer iça e mantém o seu vínculo com a sabedoria dos antepassados.
Diante da avançada modernidade e suas tecnologias a distância de um toque, Contos índios, é uma maneira intima de se ver a vida.
Fonte:
texto de Renisse Ordine para o Potiguar Notícias. 14/01/2021
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