sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

Silmar Böhrer (Poemas Avulsos)


CONFÚCIO E EU

Tenho cometido alguns sonetos
até mesmo gostosinhos,
creio que Confúcio nos analectos
rivaliza com meus versinhos.

São versos despretensiosos
escritos bem à revelia,
alguns deles, saborosos,
com gostinho de ambrosia.

Se a carpintaria é pobre
com versos de paus-quebrados,
a intenção é a de um nobre

Destes tantos que se assanham
nos momentos inspirados
em que as musas acompanham.
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ESQUECIDOS?!

Aqueles versos perdidos
entre os meus alfarrábios
podem não ser versos sábios
nem são versos esquecidos.

Na gestação deles tantos
sempre há os demorados,
pensamentos depravados,
rimas más, sem encantos.

Para a catarse sem pressa
ficam um tempo guardadinhos
no (quase) baú, lá à beça . . .

Pois versos são como as gentes,
purificam bem devagarinho
remindo maus antecedentes.
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O ÁS DO SONETO
(Ao Dr. Miguel Russowski, amigo)

Criatura sempre envolvente
nas planuras deste mundão,
desde cedo um competente,
fez-se hábil cirurgião.

Sendo um vivente facetado,
poliedro multilavra,
agita este mundo agitado,
também é operário da palavra.

Dos seus versos não vou falar,
pois doçuras eu não espalho,
verdadeiramente prometo,

Apenas algo eu quero evocar,
que se existe o ás do baralho,
ele é o nosso ás do soneto.
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OH! MAGIA

Ninguém a desafinar,
a orquestra cedo cantando,
corruíras, tico-ticos, sabiá,
joão-de-barro, bem-te-vi vibrando.

Uma sabatina em festa
então cá(qui) amanheceu,
os passarinhos na sua gesta
dão ao mundo o que Deus lhes deu.

Eis-me loguinho a perguntar
nesta insólita romaria
em que vamos nós a navegar,

Que outra mágica magia
haverá que se possa igualar
aos passarinhos em sinfonia.
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RIMAS

Ando à procura de rimas
para algum soneto bissexto,
arrisco praticar incesto
usando íntimas enzimas.

O mais pobrete vassalo
dos vassalos do verso,
vasculho rimas no universo
pra enfeitar algum regalo.

Mesmo com a inspiração escassa
eu sigo fazendo devassa
em busca de alguma rima,

Prescruto fontes a esmo,
versos dentro de mim mesmo
pra erigir uma obra-prima.
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TRANSCENDÊNCIAS

 Ora (rireis), ouvir asneira,
o poeta Bilac não cantaria,
se as estrelas ele ouvia,
a verdade é verdadeira.

Tenho ouvido as estrelas
nestas minhas romarias,
o Cruzeiro, as Três-marias,
preciso ouvi-las e vê-las.

Num mundo de turbulências
busco mesmo transcendências
para uma vida de bonança,

Em momentos aflitivos
as estrelas são lenitivos
e bálsamos de esperança.
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Fonte: Recanto das Letras do poeta.
https://www.recantodasletras.com.br/autor_textos.php?id=43868&categoria=Z

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