sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Benjunior (Benevides Garcia) Poemas Escolhidos 1


ASAS DO TEMPO

Ah, essa vontade louca de ficar...
A vida inteira, se pudesse eu ficaria,
e a teu lado feliz eu viveria,
horas e horas, sem ver o tempo passar.

Ah, se pudesse, mas tudo me impede
e me arrasta, e me sufoca numa histeria,
que o espírito grita e o corpo cede,
prostrando-me nesta sofrida agonia:

Nas asas do tempo me faço refém,
pedaços de sonho de coisas esquecidas,
confundem-me a mente e a alma também.

Aceno um adeus e vou seguindo além;
como farrapos da vida enlouquecida,
parto e reparto e já não sou ninguém.

DEUSA

Um dia surgiste em minha vida
Trazendo ternura e luz em teu olhar
Tudo sorriu quando sorriste
E com teu riso foi-se o meu pesar.

E então vivemos  num terno amor
E tudo era alegria, e um doce sonhar
Até que um dia, para a minha dor
Partiste para nunca mais voltar.

Contigo levaste todo meu prazer
Toda minha alegria de viver
Levaste tudo o que trouxeste

Se devia mesmo tão cedo te perder
Deixando em minha vida tanto sofrer
Pergunto, ó céus, por que vieste?

FADA

Saudade eu tenho daquelas manhãs
Em que tênue névoa se desvanecia
E entre raios de  sepulcral luz
Sua figura querida aparecia.

E ficávamos, os dois, embevecidos
Nos olhares contritos, emudecidos
A  jogar no ar as nossas sortes
Estranha forma de vencer a morte.

Éramos felizes nas palavras sem fim
Feito cartas de amor eterno
Pirilampos de claras luzes.

Hoje não há mais você em mim
Tudo passou e só restou
Solidão em meio às cruzes.

INDIFERENÇA

Ah, esse cansaço de mim, que me aflige
Fazendo do meu querer, um não sei mais
Espezinha minha alma e me agride
Ceifando meu viver e minha paz.

Se eu soubesse um dia, o que sei agora
Poderia ser rio cristalino entre as serras
A correr alegre nos leitos de outrora
A viver feliz, fecundando a terra.

Mas, este tormento que me estremece
Envolto no silêncio que perdura
Aumenta mais e mais a minha dor:

É luz sem brilho, é dia que escurece
É noite solitária, vazia de ternura
É janela que se fecha para o amor…

MANHÃS

Eu quisera ser como as manhãs
Que surgem radiosas por entre serras
A embalar o doce sono do menino
Que sonha com um mundo sem guerras.

Quisera ser como a andorinha
Que busca horizontes a voar sem medo
E que depois, mais tarde se aninha
Num mundo de paz, de amor sem segredo.

Manhãs, sonhar, voar, amar, caminhar
tudo isso quisera ser, fazer, viver
Enquanto não saio de minha janela.

A manhã já se foi e também meu sonhar;
Fico a esperar o tempo correr
No silêncio, uma saudade dela…

NAS SENDAS DO ARCO-ÍRIS
                     (Valhala)

     Nunca precisei de alguém como agora
     que esta dor me aguilhoa e me tortura.
     Não sei o que será de mim nesta piora.
     Punge-me a alma a sofrer esta amargura.

     De repente, tudo ficou triste e confuso,
     em meio a letras, títulos e pendências.
     Não sei até quando ficarei recluso,
     à espera que resolvam esta carência.

     Enquanto isto a dor agride, me apunhala
     o corpo, tudo, o coração, a mente,
     tal qual ignota e venenosa serpente.

     Serei certamente levado por Odin ao Valhala...
     Nas sendas do arco-íris descansarei, e entre
     valquírias e deuses viverei eternamente…

PRIMAVERA

Distante de ti, passou por mim a primavera
Cheia de flores, num setembro festivo,
Quando tua presença, mais e mais quisera
Neste meu mundo, que de saudades vivo.

Cantos e odores, neste roseiral sem fim,
Doces lembranças de  feliz folgar
Fizeram-me esquecer um pouco de mim,
E sentir teu jeito gostoso de amar.

E absorto neste mundo de encantos
Esqueço da vida, nem sinto o tempo passar
Neste paraíso de adocicadas  primícias;

Mas, de mansinho, por entre folhas e flores,
Raios de sol despertam o meu sonhar
Findando assim, minha hora de delícias.
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Benjunior, pseudônimo de Benevides Garcia Barbosa Júnior, nasceu em Ipuã, antiga Sant’Anna dos Olhos D’Água, no Estado de São Paulo, em 20 de novembro de 1945. Foi professor, Diretor de Escola e Assistente Técnico Pedagógico. No final dos anos 60 começou a escrever poemas. Atualmente, aposentado residiu em Vinhedo/SP. Radicou-se em Maringá/PR.

Publicou “Instante Perdido” (1975), “A Cidade dos 400 Janeiros” (2010), “Do Outro Lado do Espelho” (2012), “No tempo das horas mágicas” (2014) e “Instante Perdido entre Poemas Esparsos” (2018).

Fontes:

2 comentários:

Maria Inês Botelho disse...

Benevides, você tem a vida pulsando em poesias que agradam a todos os corações.
Abraço amigo e companheiro,
Maria Ines

Unknown disse...

Uauuu,tirou-me o fôlego!Deliciosos de se lerem!!♡