domingo, 27 de outubro de 2019

Silmar Böhrer (Divagações Poéticas) I


1
Nunca fico sem remédio
para dor em casa.
Tenho vários livros de filosofia.
Para qualquer dor.
A qualquer hora.

2
Somos propensos
a praticar
a horizontalidade.
Quase rés-do-chão.

Mais alto devo subir,
mais alto devo olhar.
Goethe a sugerir.
E apregoar.

Pedras
penhascos
planaltos.

Planos altos.

Surgir
subir
sumir.

Praticar
a verticalidade.
Sempre.

3
Não sei se sou
apenas um
ou sou um
apenas.
Sei que sou
um.

4
De vez em quando
lavo
meu relógio de parede.
Em meio
a tanta sujeira
podridão
mesquinhez
falsidade
preconceito
brutalidade
insensatez
é bom termos
algumas horas
puras
limpas
saudáveis
verdadeiras.

5
No espelho:
- Puxa, cara, como você está bonito ?
Quantos anos tem ?
- Meu sorriso é a minha idade.
- Verdade ? Como assim ?
- Anos de vida se contam com paz de
espírito, alegria, otimismo, jovialidade,
e o sorriso na face.
- É... parece !
- Então sorria também. Sempre.

6
Leitor contumaz,
leio até mesmo
o que não me apraz,
e que
daqui a pouco
me satisfaz.

7
Indícios de primavera:
primeiros acordes
do pássaro desconhecido,
fantástico
cantador,
encantador
monástico.
Primeira monção
de setembro.

8
A vida é um rio
que segue
em meandros
na planície,
nas encostas,
nas montanhas.
Vêm pedras,
vêm flores,
vêm espinhos,
alternância
nos caminhos.
Somos um barco
a navegar
em águas
serenas,
rápidas,
caudalosas.
Calmarias,
rebordosas.
Rio somos, rio vamos.

9
Estuário
das leituras
de variadas fontes,
sempre mais
inundado
de águas-conhecimentos.

10
Em nome da cultura
masco palavras,
engulo ideias,
regurgito convicções.

Fonte:
Enviado pelo poeta.

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