segunda-feira, 14 de outubro de 2019

João de Toledo Tito (Em Qualquer Esquina, Um Texto)


Parado, indeciso, em frente à gôndola na adega, já com uma cartela generosa de presunto de Parma debaixo do braço e com uma garrafa de vinho tinto seco em cada uma das mãos, tento optar por uma delas. Procuro ávido por socorro, e lá está ele. Grande, quase de meu tamanho, afixada em uma coluna metálica estruturada, uma seta vermelha - onde se lê: Leitor de Código de Barras - aponta para baixo na direção da maquininha. Aproximo-me da intensa luzinha verde que ela emite, exponho as barrinhas que até agora não me significam nada e meu problema se resolve. O leitor transmite os dados a um computador central, o qual, entre informações catalogadas para cada produto, seleciona aquela mais interessante aos clientes que a procuram, e voilá, leio o preço dos vinhos. Escolho o mais caro, pois não é tão mais caro assim, dirijo-me ao caixa, pago e saio dali.

Mais relaxado e caminhando em busca de quem amo, só me falta uma boa música para que a festa fique completa, e ela começa a martelar a minha cabeça: "Se alguém perguntar por mim, diz que fui por aí, levando um violão debaixo do braço... Em qualquer esquina eu paro, em qualquer botequim,.,"

Consigo também pensar neste meu texto. Não seria ele como aquele código de barrinhas, que nada significa sem os olhos brilhantes de um leitor a transmitir ao mais poderoso dos computadores as informações capazes de emocionar com as informações certeiras - só um amontoado de símbolos previamente organizados, mas ainda sem finalidade?

Apresso os passos, ansioso e feliz, para o encontro. Trocar afagos, saborear os petiscos, presentear com meus escritos, na esperança da conquista final, a leitora desavisada que me espera distraída na janela. Mal sabe ela que levo também outras rimas na cabeça, que só farão sentido depois da sua leitura. E a música continua em minha cabeça: "Se alguém perguntar por mim, diz que fui por aí, levando um texto debaixo do braço... Em qualquer esquina..."

(Crônica Premiada no VII Concurso Literário “Cidade de Maringá”)

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