sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Antonio Carlos de Barros ("Queixinho de Merência")


 Palavras em negrito itálico, o significado está no vocabulário no final do texto.
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Em tempos distantes, nos verdes Pampas Gaúchos, eram meados do Século 19, o Brasil passava de Monarquia para República, a desigualdade tomava conta de tudo, e de todos.

Rosário do Sul tremeu, no lendário Touro Passo. Arroio Saicãnzinho, serviu de cenário para um “causo” maldito, de triste matiz. 

Na Serra do Caverá, Rosário do Sul, o Sol se escondeu de vergonha, e fugiu, ante ao fato infeliz entre os jovens, Thiago e Merência.

Eles iniciaram um namoro às escondidas do Patriarca, que ditava as normas, e possuía um coração de pedra.

Um amor escondido, mas um amor verdadeiro.

Merência, menina humilde, pobre, mas uma grande garota.

Thiago, filho de um rico Estancieiro moço bem sucedido com um grande sentimento por Merência.

Pai de Thiago assim que soube do namoro, não aceitou. Thiago respondeu o Pai e enfrentando o Patriarca disse que o namoro era sério e que iria se casar com a Merência.

Enfurecido o Pai e Patriarca, certo dia, mandou o filho para uma grande tropeada. Em seguida, contratou dois capangas e mandou matar Merência.

Merência estava na porta da fazenda, quando foi atacada e sequestrada. Os capangas levaram-na para um mato fechado, abusaram sexualmente dela, e logo depois a esquartejaram. A primeira facada foi no rosto, o queixo saltou e fixou-se em uma forquilha de uma figueira.

Com o passar das horas, os Pais de Merência, deram por falta da filha e juntamente com amigos, começaram a procurar nas sangas próximas, lagoas, peraus e canhadas, sem obterem sucesso nas buscas. Com o passar dos dias, notaram que o fiel cachorro da casa, todo dia entrava matagal adentro e voltava horas depois chorando para a casa. Começaram a desconfiar da atitude do cachorro. Até que resolveram chamar o Delegado de Polícia e em equipe, seguiram o cachorro. Tiveram sucesso na busca. Infelizmente o corpo foi encontrado, já em estado de decomposição. O vestido foi a única coisa que restou.

Quando Thiago voltou da tropeada, desesperado soube da triste notícia do desaparecimento da Merência. E enfrentando o seu Pai, acusa-o do desaparecimento da Merência. O Patriarca muito raivoso confessou o mando do crime ao filho, que acabou enlouquecendo, pois via assim, o seu grande amor terminado e não sentia mais o porquê de viver.

Três anos depois o queixo da Merência foi encontrado. O povo colocou o queixo em uma caixinha, e com muita devoção era velado de casa em casa, com rezas e pedidos para a Merência.

A Igreja Católica, através do seu representante local, não gostando da atitude do povo, e de todo o cerimonial, proibiu essa devoção e solicitou que o “Queixinho da Merência”, colocado dentro de uma pequena caixa, fosse sepultado no Cemitério local. Foi confeccionado então, uma pequena sepultura, e o Queixinho da Merência, finalmente sepultado.

Ele encontra-se, no Cemitério Municipal São Sebastião, na Cidade de Rosário do Sul, Rio Grande Do Sul, e ainda hoje é motivo de muitas visitas, rezas e pedidos de muita fé, para o Queixinho da Merência.

"E num triste amanhecer, a poesia abandonou o campo. O amor nem sempre é sorriso no rosto, às vezes traz dor, agonia e desgosto".
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OBSERVAÇÕES:

O Queixinho de Merência – foi um acontecimento real, filmado e apresentado pela RBS (Globo) com alguns artistas locais, como: Histórias Extraordinárias (2005) - Rosário do Sul. O vídeo está disponível no Youtube.
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Este “causo” foi editado pela Martins Livreiro, no Livro: “Mitos e Lendas do Rio Grande do Sul”, da autoria de Antonio Augusto Fagundes.
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GLOSSÁRIO:

Arroio: riacho, rio pequeno.
Canhadas: vale, baixadas.
Caverá – Distrito de Rosário do Sul.
Pampas: denominação dada as vastas planícies Gaúchas.
Peraus: precipício, declive que dá para um rio.
Sangas: pequeno curso d’água, menor que um arroio.
Touro Passo – Distrito de Rosário do Sul.
Tropeada: conduzir tropa de gado, cavalos, etc.


Fonte:
Texto enviado pelo autor

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