Quando alguma ideia pula da mente para o papel, ou, melhor dizendo... Quando algumas frases aparecem na tela do computador, clicadas por dedos não tão ágeis; às vezes quando as ideias fluem, os primeiros leitores serão sempre os olhos do autor, críticos ávidos, prontos para descobrir o que pode ser dito de melhor maneira, o que pode ser cortado como supérfluo, ou tão somente o que pode ser amenizado com um pouco mais de bom senso. E como são exigentes esses dois leitores, que analisam com rigor aquilo que a mente deixou passar sem cuidados maiores, sem análise ou filtro, mantendo ainda a pureza de um retrato sem retoques, nada do que foi dito, sem alcançar ainda forma definitiva!
Só depois desse encontro definitivo com o autor o texto viabilizado terá passagem liberada para chegar a outros olhos, talvez até mais benevolentes do que os primeiros! As páginas, os livros e os versos levam dentro de si a alma de quem os escreveu. Toda obra, em geral, tem o efeito de catarse, nem sempre buscada, mas incontida sempre. Isto porque a sinceridade de quem escreve é sempre difícil de ser controlada, e, ainda mais, de ser disfarçada.
O leitor tem em mãos uma obra qualquer. Poderá folheá-la com certo interesse. Como poderá relegá-la, após esse folheio. Poderá ainda deixar-se prender, quase que inconscientemente, por aquele fio invisível que conduz a narrativa até o ponto final - marco inconfundível de vitória do autor!
A sintonia que une a mente de quem escreve à mente interessada de quem lê é o objetivo principal daquele que nasce fadado a fragmentar-se, a cada dia, em letras e sinais gráficos que espelham o que pensa, expõem o que deseja, na entrega de sua alma inteira a seres que sequer conhece, mas cuja existência o ajudam a manter viva aquela chama criativa que lhe garante a sobrevivência do impulso indispensável à ação de escrever.
E é justamente aí que a importância do leitor mais cresce. Quem escreve quer ser lido. E, portanto, quem lê é complemento indispensável ao estímulo e à perpetuidade da difícil arte da escrita. O leitor é testemunho público de que aquele escritor por ele prestigiado faz jus ao título que carrega, podendo até depois de morto ser considerado imortal, uma vez que suas páginas palpitam ainda em mãos de quem as encontrou numa estante, em formato de livro.
E esse alguém, ao ler aquele livro com carinho, salva o autor da triste penumbra do esquecimento, cruel e contumaz apagadora de nomes e memórias, a cada dia que passa.
Fonte:
Livreto dos vencedores: VII Concurso Literário “Cidade de Maringá”; II Concurso Literário “Maria Mariá”. Maringá/PR: Nova Criação, 2016.
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